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terça-feira, 4 de junho de 2013

TOCA DO MATIAS: ESPELEÓLOGOS, ASTRONAUTAS OU APICULTORES ?






   O ano era 2006, em julho eu tinha finalmente adquirido minha carbureteira e estava ansioso para inaugurá - la. Foi então que em um domingo monótono do dia 05 de agosto, eu decidi que era hora de testar o meu novo equipamento. Liguei pra todos os que poderiam aceitar esse convite, assim em cima da hora, e tive duas respostas positivas: Bruno João (Buruja) e Hugo Nascimento. Junto com meu irmão Marcelo Vieira era o suficiente pra uma pequena expedição. Faltava escolher o local, nessa época estava habituado apenas com as Toca da Tiquara e a Toca do Angico, entretanto estava em busca de algo novo. 
    Quando fazia trabalhos na Toca do Angico, seu Idelson, dono da propriedade onde fica a Toca do Angico me dizia que existia outras grutas próximas, ele citava a gruta do Incó e a Toca do Matias e apontava mais ou menos pra onde seria a direção delas. 
    Foi essa a nossa decisão, fazer prospecção na área e tentar achar a tal Toca do Matias. Alugamos um carro, e combinamos com o motorista para nos deixar em uma estrada pouco depois do povoado de Caraíbas, e retornar no mesmo ponto as 18 h, e feito isso, começamos nossa prospecção por toda a caatinga dessa região, e das 15 as 18 h percorremos uma grande área , visitamos muitos afloramentos promissores e não tivemos sucesso. Já estávamos voltando para o local combinado com o motorista, quando Buruja decidiu uma última tentativa, ele avistou um afloramento, e decidimos que valeria a pena ir conferir. Como não tínhamos expectativas de encontrar depois de três horas de tentativas frustradas, decidimos deixar nossas mochilas inclusive com a recém adquirida carbureteira escondidas próximo ao local que iríamos retornar. O resultado foi que o afloramento avistado era realmente a entrada da Toca do Matias, adentramos apenas na zona de penumbra, e vibramos muito com a descoberta. Estávamos aos gritos quando de repente, Marcelo alertou que tinha sido picado por alguma coisa, foi aí que olhei pra cima e pude observar espantado uma grande colmeia de abelhas. Saímos correndo, nos rasgando entre as unhas de gato, juremas e macambira.. plantas que fazem da caatinga uma vegetação bastante agressiva. Retornamos alegres, com a descoberta, mas  a inauguração da carbureteira ficou pra uma outra expedição. 


André Vieira, Marcelo Vieira e Hugo Nascimento. Prospecção na área da Toca do Matias. Agosto de 2006. Foto Bruno João.

Entrada principal da Toca do Matias, em cima de uma escada de madeira existe uma grande colmeia de abelhas.

Por do Sol na caatinga, após a nossa primeira investida na Toca do Matias (TM). 

       O nosso retorno a Toca do Matias foi em outubro de 2007, dessa vez eu queria inaugurar os equipamentos de topografia que tinha adquirido. Montei uma equipe e dei um curso rápido de topografia e mapeamento, a equipe ficou assim : Eu, na função de  instrumentista; Burujas como o ponta de trena; Alex Silva como anotador, Hugo Nascimento era o croquista e Thales Oto e Edemir  Barbosa eram os auxiliares. 
   Agora faltava resolver o problema das abelhas, foi aí que lembrei que tenho um primo no povoado de Caraíbas que é apicultor,  como era caminho a gente passaria lá,  pegava a vestimenta de apicultor e estaria resolvido o problema. E assim fizemos. Depois que eu entrei, e passei pelas abelhas percebi a existência de uma outra entrada que ficava distante da colmeia  orientei o pessoal a entrar por lá e após isso, todas as outras expedições para o Matias tem sido por essa passagem.
Hugo e eu após passar pelas abelhas trocando agora pela vestimenta de espeleólogos.

Edemir Barbosa, alem de vestido como apicultor, carregava um colete salva vidas pois não tinha como saber o que poderíamos encontrar.

   A entrada da caverna tem teto plano e claro e o piso bastante acidentado com muitos blocos abatidos, logo nos primeiros 10 m aparece um declive acentuado, mas que é possível a descida sem cordas. Começamos a nossa primeira experiencia com topografia, após marcar o norte geográfico na entrada, vamos colocando as bases fixas ( fitas com uma letra e um número) essas bases são colocadas em sequencia ao longo da caverna e de uma base para outra medimos a distância em metros com uma trena e tiramos o azimute que é, o angulo em direção ao norte, com o auxilio de uma bussola de alta precisão. Além disso é medida também a inclinação com ajuda de um clinômetro. Enquanto isso o croquista vai desenhando a planta da caverna em um papel e o anotador vai anotando em uma planilha as medidas.



Detalhes da topografia, Alex anotando, eu fazendo a leitura da bussola, Hugo fazendo os croquis. 

     Após o declive a caverna volta a ficar plana mas, ainda com bastante blocos abatidos, nesse ponto o teto e o piso são bastante ornamentados, inclusive com estalactites ainda em formação. A caverna parecia no entanto chegar ao seu fim, caminhamos ao lado do que parecia ser a parede final, entupidas por blocos e sedimentos, enquanto topografávamos o que poderia ser o final da caverna, descobrimos grandes estalactites e espeleotemas mais raros como helictites.  Que são projeções da estalactite contra a gravidade.


O teto do primeiro salão após a entrada, com muitas estalactites ainda em formação. 

Detalhe das estalactites com helictites um espeleotema pouco frequente nas cavernas de Campo Formoso.


    Já estávamos finalizando toda a lateral esquerda em sentido sul, quando Bruno, nosso ponta de trena, resolve averiguar uma pequena passagem por entre blocos abatidos, pra nossa surpresa a passagem revelou uma malha de condutos de tamanho intermediários. já estava tarde, e os condutos possuíam muitas ramificações o que dificultava a topografia; pra não falar que como tinha grande quantidade de morcegos Thales e o motorista se apavoraram ao ponto de ter que sair do conduto de mãos dadas. 



Burujas explorando uma pequena passagem. 


Os condutos descobertos após a passagem do burjas, são parcialmente entupidos de sentimentos e bastante ramificados .



Esses condutos abrigam uma grande quantidade de morcegos, provavelmente da família Phylostomidae.



Registramos esse roedor não identificado em estado de decomposição.

     Terminamos a topografia desse dia, obrigatoriamente teríamos que retornar lá pra explorar aquela malha de condutos após a passagem do Buruja.  Estávamos contentes, nos preparando pra ir embora, acontece de buruja deixar cair o capacete em um pequeno abismo que não havíamos notado, próximo do teto plano com estalactites ainda em formação, então Bruno tem que descer o abismo pra recuperar o capacete, mas ele acaba descobrindo um galeria muito maior que aquela da passagem do Buruja. 


Na próxima postagem,  Toca do Matias parte II, contarei as descobertas do salão das mesas quebradas, no ramo sul da caverna e o que vai nos revelar essa galeria encontrada quando Bruno resgata o capacete. 

To be continue ...

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