Essa postagem é uma continuação de: Toca do Matias: Espeleologos, astronautas ou apicultores? recomendo que leiam a primeira parte para no link a seguir para melhor entendimento dessa história Link : Toca do matias 1
Nossa terceira expedição para TM, a segunda para topografia aconteceu em Fevereiro de 2008. Um grupo da UCSAL, veio visitar a região pra registro da avifauna e da herpetofauna, acompanhamos o grupo em um acampamento na serra de Pindobaçu - Ba. E no outro final de semana, organizamos a expedição para a continuação da Topografia, que começara um ano antes.
A ideia era topografar o lugar que Burujas descobriu por sorte, quando deixou cair o capacete na expedição de 2007. Descemos um pequeno abismo escalando a parede, e nos deparamos com um conduto largo e alto, com muitas placas de calcário no chão.
Bruno João, Eu e a turma da UCSAL. Na entrada da Toca do Matias (TM).
Logo na entrada nos deparamos com um evento que no imaginário popular é comum, mas que na realidade é raro, encontrar uma serpente em cavernas. Encontramos uma Oxyrhopus, conhecida vulgarmente como falsa coral, ao contrário das corais verdadeiras essa é uma cobra dócil que não traz riscos ao homem, se alimenta de pequenos lagartos e até mesmo de outras cobras.
Um belo exemplo de mimetismo, onde um animal tem vantagens adaptativas ao se assemelhar com um outro animal verdadeiramente perigoso.
Joice Herrera, (Herpetóloga) nos mostrando que essas serpentes são dóceis e nos explicando que as falsas corais possuem ventre branco, enquanto que as verdadeiras possuem anéis vermelhos e pretos que circundam todo o corpo .
Escalando o pequeno abismo que nos leva as novas galerias que seriam mapeadas.
Assim que descemos o pequeno abismo nos deparamos com dois vestígios de ossos que não sabemos se são fósseis ou se são recentes.
Uma carapaça de Jabuti, não temos ideia se é recente ou se é fóssil.
Osso de animal não identificado, também não sabemos se é recente ou fóssil.
O conduto em que começamos o mapeamento nessa expedição.
Existe algum condicionante geológico nessa região da caverna que fez com que placas planas de calcário se desprendessem do teto. Essas placas vão entupindo o meio do conduto e não demora muito a termos que passar pelas laterais, porque a pilha de placas caídas alcança o teto. O conduto que caminhávamos fácil ia ficando para trás, e o caminho vai ficando cada vez mais estreito e dificultando nossa passagem, até chegar um ponto que o rastejo é inevitável, não dá pra passar com as mochilas nas costas.
Detalhe do conduto em que placas se desprendem do teto. Alguns locais nos sugere que algo parece pressionar o teto o que faz com as placas localizadas no meio do conduto quebrem e caiam.
O conduto parcialmente entupido, nos deixa apenas as laterais com passagens estreitas.
O rastejo é inevitável .
Uma das coisas mais empolgantes de se rastejar por um conduto é a esperança de encontrar um salão ou uma galeria maior. Aquela velha história encontrar um lugar legal que ninguém ainda tenha visto, ser o primeiro a chegar. Então, estávamos com essa expectativa, de estar indo onde ninguém nunca foi, superando o rastejo de considerável dificuldade, quando reparamos uma pichação no teto, escrito a carvão " VAL"... que decepção ! alguém já havia passado ali antes, nesse momento buruja soltou a pérola " tem que ser muito viado pra rastejar isso tudo e riscar o nome na parede" todos caíram na risada e resolvemos batizar esse conduto rastejante de conduto do "valveado".
Conduto do "valveado"
O final do valveado dá em um pequeno salão arrendondado com algumas poças de guano antigo. Achamos que ali fecharia, mas tinha uma pequena passagem. Acabamos o mapeamento daquele dia ali, mas teríamos um tempo pra ver onde iria dar essa passagem. Era um declive muito escorregadio, que abria em uma pequena galeria de uns 70 cm, com muitas entradas, contamos pelo menos 5 entradas. Buruja experimentou a primeira a sua direita pra ver onde iria. Era uma passagem claustrofóbica mas que abria em um salão grande, o maior que encontramos no dia. E com um conduto que era uma avenida, andamos um pouco e percebemo que a caverna tinha potencial pra seguir naquela direção.
Passagem sufocante pra entrar no salão dos 50
o salão dos 50, batizamos assim essa galeria, pela empogação de burujas nosso ponta de trena, ele foi o primeiro a entrar na galeria, e depois de tanto rastejo só o fato de ficar em pé deu a ele a sensação de estar em um salão que cabia 50 pessoas, ele alardeou isso, e eu ri, quando vi que era uma galeria e não um salão que caberia 50 pessoas. Mas o nome ficou.
Retornamos com a sensação que a caverna tinha muito a nos revelar ainda.
Parada no Bar do Kitão, povoado de Caraibas. Um brinde a TM.
Menos de um mês após a 3 expedição, organizamos a 4 expedição para a (TM). Dessa vez foi um grupo grande, Todos amontoados em uma carroceria de Toyota do seu Gevilácio, um entusiasta pelas belezas de Campo Formoso. Fomos em direção a outro ramo da caverna, explorar e mapear a malha de condutos que se abria após a passagem do Buruja, que descobrimos na segunda expedição.
Os condutos se interconectavam e seguimos um de pequeno porte em que se via várias entradas laterais, seguimos em frente até achar um salão maior, onde se encontrava grandes blocos abatidos, que eram planos e rachados no meio. Lá fizemos um pequeno lanche e Rangel Carvalho, batizou esse lugar de salão das mesas quebradas.
Fotos da 4 expedição mapeando os salões da passagem do buruja.
Salão das mesas quebradas. 4 expedição da Toca do Matias (TM) integrantes: Rangel Carvalho, VirgínioAguiar, Michele Mendes, Amanda Guimarães, Ramon Amaral, Marcelo Vieira, Ideon Junior, Rodrigo " corante" e André Vieira. Foto: Gevilácio
Em 2009, realizamos a 5 expedição para a o Matias. Dessa vez, dois ex alunos, Marcos Vinicius e Jonh Graysson, junto com dois amigos entraram em contato comigo pra fazer uma pequena expedição.
Registramos um Amblipygeo logo no salão da entrada, e seguimos em direção ao rastejo do valveado. A intenção dessa vez era conferir outros condutos entres as várias abertura que observamos depois do valveado durante a 3 expedição no carnaval de 2008. Os condutos que exploramos se mostraram bem ramificados com muito sedimento fino, diferente das outras áreas da caverna onde existiam muitas placas caídas. Porém os condutos não apresentavam desenvolvimento, sempre pequenos e sempre fechavam. Deixamos muitas entradas para trás, mas deu para topografar um bom trecho.
Registro de um Amblipygeo do gênero Trichodamon na zona de penumbra da caverna.
John Graysson, explorando os condutos com muito sedimento e diferente das demais áreas da caverna.
O maior salão que encontramos nessa área da caverna foi o salão da guanogmite, um pequeno acúmulo de guano no piso.
Registramos ainda a descoberta de coprólitos ( fezes fossilizadas) provavelmente de Tamanduá.
Depois de 5 expedições teríamos material pra apresentar um grande mapa da caverna. Porém por uma grande infelicidade, perdi todos esses dados do mapeamento de 2007 - 2009. Não tenho mais nada, nem as anotações de azimutes e distancias nem os croquis. O resultado é que teremos que fazer toda a topografia novamente. Por outro lado isso é uma coisa boa, por que poderemos fazer com um nível de detalhamento melhor. Com uma bússola mais precisa que estou adquirindo e com duas equipes bem treinadas vamos melhorar esse mapeamento e produzir um mapa definitivo e decente, além é claro de registrar a caverna no cecav, por meio de uma publicação de todo esse processo. Quem quiser entrar pra história da Toca do Matias que entrem em contato.
Revisão do texto: Fernanda Libório
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