A imprevisibilidade de uma expedição espeleológica é o que mais me impulsiona a continuar realizando essa prática.
No que denominamos expedição independência devido á proximidade com o feriado de sete de setembro, tivemos mais uma grande surpresa em uma caverna de Campo Formoso.
Inicialmente a proposta da expedição seria fazer a topografia da Toca do Angico (TA), caverna que o grupo CAACTUS visitava com bastante frequência durante a primeira formação entre 2004 e 2006, mas que não existe mapa ainda.
Depois dos desencontros habituais, e contando que a expedição foi de imediato, a equipe expedicionária ficou assim: André Vieira, Altemar Serafim, Gilmar D´Oliveira, Ruan Souza e dois novos estreantes no mundo da espeleologia. O Nigeriano, Alpha Chinedozie e o Angolano, Pedro Strong.
Como fazia muito tempo desde minha última visita a caverna, o caminho se modificou bastante e demoramos até encontrar a fazenda de referencia. O resultado foi que chegamos muito depois do horário previsto. Por chegar tarde e por ter poucos integrantes resolvemos mudar os planos.
Ao invés de topografar, faríamos algumas fotos na (TA) e uma prospecção na área a fim de confirmar informações que recebemos sobre outras cavernas na região. De acordo com Seu Idelson, morador da fazenda, se a gente ficasse no ponto mais alto da entrada da TA, daria pra ver um afloramento que seria a entrada da Toca do Vicente (TV).
Da esquerda pra direita: André Vieira, Altemar Serafim, Alpha Chinedozie, Ruan Souza, Pedro Strong e Gilmar Oliveira. Ao fundo o afloramento da Toca do Angico.
Algumas fotos dos condutos emoldurados por claraboias da Toca do Angico.
Espeleotema no salão Cunhão de Boi. Toca do Angico. Fotos: Gilmar D´Oliveira.
Sem muitas dificuldades encontramos o afloramento da Toca do Vicente e fizemos nossa primeira incursão na caverna que aparentemente não recebe visitas. E certamente foi a primeira visita de um grupo espeleológico. A entrada apresenta - se na forma de cânions estreitos e altos. Uns 10 metros a frente e ela se bifurca, os dois lados bastante estreitos, mal dá pra passar com a mochila. O do lado esquerdo é curto e depois de passar por algumas poças de guano termina em um pequeno salão circular. O da esquerda é por onde desenvolve a caverna.
O Nigeriano Alpha tentando se localizar em meio a vegetação arbustiva da região.
Durante os primeiros metros da Toca do Vicente temos que encarar grandes revoadas de morcegos em um conduto estreito, além de passar por cima de muito guano fresco e fóssil. Ao chegar a um salão circular bem parecido com a do outro ramo, parecia que era o fim, e que seria uma pequena caverna, fato incomum para os padrões de cavernas campo-formosense.
Então, percebemos que existe uma passagem temos que girar quase 360º como se estivéssemos voltando para a entrada. Essa passagem é íngreme e com uns bons 2 m de guano no piso. O fim da passagem revela um grande salão, com blocos abatidos do teto, que denominamos salão África. Uma homenagem aos dois novos convidados das expedições CAACTUS.
Entrada da Toca do Vicente. Mostrando o padrão que vai continuar no interior da caverna, teto alto e paredes estreitas.
Salão África. Toca do Vicente. Fotos: Gilmar D´Oliveira.
Após o salão África, encontramos a maior surpresa do dia, um salão pequeno, com o piso repleto de ossos, contamos uma dezena de crânios do que se confirmou como sendo de Tayassuídeos.
Os Representantes da família Tayassuídae, inclui, dentre outros, porcos selvagens que ingressaram na América Sul durante o período geológico conhecido como Plio-Pleistoceno.
Existem duas espécies viventes hoje na America Sul, o Tayassu tajacu, conhecidos como caititus, e os Tayassu pecari, conhecidos como Queixadas.
Uma família de Queixada Tayassu pecari em cativeiro. Foto: Ronald Carvalho.
Fósseis de Tayassu do período Pleistoceno são muito encontrados em cavernas. Restos cranianos de um grande Taiassuideo, conhecido como (Brasilochoerus) foram encontrados na região de Lagoa Santa - MG.
Os fósseis que encontramos na (TV) levantam vários questionamentos sobre a tafonômia, que é o estudo da morte. Por que tantos no mesmo local? São todos da mesma família? Foram levados pra lá por um predador? Além desses crânios, encontramos outro do que possivelmente venha a ser um felino. Enfim, muitos questionamentos que serão respondidos nas próximas expedições.
um dos muitos crânios de Tayassu encontrados no salão cemitério de Tayassu.
Crânio ainda não identificado.
Depois do cemitério de Tayassu a caverna ainda apresenta um conduto de teto baixo em que há continuidade. Vale o registro faunístico de uma população de Pseudonannolene. O diplopode troglófilo mais comum nas cavernas brasileiras.
Foto de Pseudonannolene, contei 7 bastante ativos em um intervalo de 10m.
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