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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Expedição Taquarendi - Encontrando os caminhos.

A Sociedade Espeleológica Azimute foi fundada com o objetivo de realizar prospecções, mapeamento e divulgação do patrimônio espeleológico do Estado da Bahia. Seguindo esse preceito nos reunimos no dia 31 de maio de 2014 com a finalidade de fazer a prospecção, isto é, uma pesquisa de campo, que neste caso foi realizado na região de Mirangaba e fazer uma avaliação espeleológica da localidade.

O distrito de Taquarendi em Mirangaba - BA. Já é famoso por sediar uma gruta turística: A gruta de Santo Antônio. Só a visita a essa caverna já era digna de uma expedição mas, somado a isso colhemos também informações sobre uma caverna no distrito de Mangabeira. Segundo a crença local essa caverna iria se encontrar com a já conhecida Gruta de Santo Antônio.  Lanternas, capacetes, mochilas e muita disposição nos acompanharam rumo a Mirangaba - BA.  A fim de tirar a história a limpo.


O sábado do dia 31 amanheceu chuvoso e as estradas de chão que ligam a cidade de Campo Formoso ao distrito de Taquarendi nos proporcionaram uma verdadeira aventura Off Road.
Um atraso devido a estradas interditadas 

Levamos pouco mais de 2 horas pra chegar à roça em que está a primeira caverna a ser visitada. Ainda sem um nome oficial, resolvemos chama lá temporariamente de gruta do Paranazinho, embora ela esteja situada na localidade de Mangabeira, já existe outra caverna na Bahia com esse nome e adotamos por enquanto o nome da localidade vizinha que é a de Paranazinho. 

Para chegar à entrada da caverna temos que atravessar uma plantação de alho, que é o principal produto agrícola da região de Taquarendi.

 Os moradores do local nos informaram que existem várias entradas, algumas horizontalizadas outras na forma de abismos profundos, como achávamos que essas entradas se interconectavam resolvemos tentar nas que são horizontais.
Travessia por entre as plantações de alho pra chegar a entrada da caverna. 

Uma das entradas estava bastante obstruída com entulhos de todo tipo. Então optamos pela próxima e encaramos nosso primeiro desafio, a entrada estava protegida por ninhos da vespa vermelha Polistes canandensis, conhecida como vespa cabocla ou marimbondo caboclo ou ainda uma denominação mais restrita ao interior da Bahia, Inchu caboclo.
Ao contrário das abelhas que ao introduzirem o ferrão morrem, essas vespas podem ferroar várias vezes, e a ação do veneno é semelhante ao das abelhas africanizadas provocando inchaço, vermelhidão e febre, sendo mais grave em quem tem alergia.  

Ficamos receosos de encarar as vespas até que o mito Josan, deu dois gritos de valentia contra as guardiãs vermelhas, levou duas ferroadas e não descansou até matar uma por uma com a mão. 
Ninho de Polistes candensis vulgarmente conhecido como inchu caboclo. 

O acesso por essa entrada é relativamente fácil. Exceto por alguns pedaços de vidro e ossadas de cães que os moradores jogaram lá, a caverna está bem preservada.
O primeiro salão após a entrada possui teto baixo e muitos blocos de desmoronamentos. Existe nesse primeiro salão um pequeno conduto lateral de teto baixo que não exploramos e que talvez faça conexão com a outra entrada que estava entulhada, já que se desenvolvem na mesma direção. 
Afloramento calcário da entrada. 
Detalhe da entrada, já sem vespas. 

Resolvemos seguir pelo caminho mais alto, que na verdade é um desnível repleto de blocos de abatimento. Não demora muito pra caverna apresentar um padrão ramificado, os condutos são baixos, mas, alternam com tetos mais altos que chegam a 2 metros essa alternância muitas vezes é de maneira brusca.  

Seguimos no que parece ser o eixo principal da caverna que é notadamente uma caverna freática, com calcário escuro ou sujo, e sem estalactites e estalagmites.

Esse conduto que podemos chamar de principal é repleto de passagens laterais do lado esquerdo e direito, optamos por seguir sempre em frente, mas volta e meia adentrávamos em uma dessas passagens laterais para sondar.
Uma dessas passagens resolvemos  apelidar de passagem do gemido. Apenas um dos integrantes da expedição a explorou. O integrante de sobrenome Kupi, rastejou alguns metros pela tal passagem e quando perdemos de vista sua luz, começamos a gritar pra que ele retornasse, mas só escutávamos os gemidos agonizantes da criatura.
- Kupi ? Está nos ouvindo?
- hummmmmmmm
- Kupi ? Está tudo bem aí?
- hummhhummmmm
Muitas hipóteses foram testadas para saber o porquê dos tais gemidos kupinianos mas não obtivemos resultados conclusivos.

Anedotas  a parte, a exploração da caverna continuou e a expectativa era encontrar um salão de maior porte, já que os condutos a meia altura estavam exigindo muita atenção, devido ao aspecto labiríntico e monótonos. Nossa expectativa foi superada com a descoberta de dois grandes e belos salões, que batizamos respectivamente de salão retangular e salão barriga. 

O salão retangular é incrível. Parece ter sido esculpido como em uma mina. 

Uma passagem estreita após o salão retangular abre no mais volumoso salão que encontramos nessa exploração e batizamos de salão barriga. 

Finalizamos a exploração na caverna do paranazinho com muita vontade de voltar pra fazer a topografia e partimos para nosso próximo objetivo. 
Foto oficial pós exploratório. Equipe: Kupi, Altemar, Edson, Claudiney, John,Cláudia, Ágata, Paulo, Agrícia em pé e sentados estão: Gilmar, Josan, Virginio, Roninho, André e Luiz Felipe.

No meio da tarde chegamos a famosa Gruta do Santo Antônio, Já que a caverna do paranazinho não nos levou até ela, vamos agora tentar achar alguma passagem desconhecida na gruta do Santo Antônio.

Achamos tão interessante essa gruta que será necessária uma postagem a parte para ela, nessa postagem apenas relatarei que ficamos encantados com o equilíbrio entre o natural e o artificial para permitir o conforto e acessibilidade em um ambiente que para a população local é considerado sagrado de acordo com suas crenças.  
E que não obtivemos sucesso em achar algum trecho que nos indicasse alguma continuidade. Após  a parte que foi transformada em altar e em que é celebrado rituais religiosos existe uma galeria que  necessita de descida vertical. O teto dessa galeria tem mais de 5 metros, mas ela acaba algumas dezenas de metros a frente. 
Preparativos para exploração da Gruta de Santo Antônio. 
Sessão de fotos nas galerias bem iluminadas da Gruta. 
Espeleomodelo 
Aspecto da ação antrópica modificando o ambiente cavernícola em um altar para celebrações religiosas. 



Após a visita da Gruta do Santo Antônio a equipe expedicionária SEA se dividiu, dois carros tiveram que retornar, e dois continuaram para conhecer os aspectos culturais da cidade.

Um acampamento sossegado nas terras da localidade de Nuguaçu, e a visita relaxante e contemplativa da Cachoeira do Campo do Meio, finalizaram a nossa expedição em que além de reforçar velhos laços de amizades, nos permitiu voltar com mais esperanças de que a SEA está no caminho certo. 
A parte cultural também é importante. 
O camping foi nas margens do rio preto. 
Finalizamos a expedição na belíssima cachoeira do campo do meio. 



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