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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O notável Espeleoraptor da Toca do Gonçalo.

Os ambientalistas chamam de Hotspot de biodiversidade os locais com uma reserva biológica única e que podem estar ameaçados de destruição.  A cada estudo que é feito sobre a fauna da caverna chamada Toca do Gonçalo em Campo Formoso - BA. Ganhamos a certeza que o local é um hotspot de biodiversidade subterrânea. 
Conduto da Toca do Gonçalo. ( hotspot da biodiversidade subterrânea).  


Dentre os tesouros biológicos que habitam a toca destacam-se alguns dos mais espetaculares troglóbios do Brasil. Troglóbio é um organismo que vive exclusivamente dentro das cavernas e que possui características como despigmentação, ausência de olhos, tamanho reduzido, corpo alongado entre outras. 

Entre os troglóbios encontrados no Gonçalo que já foram publicados está um peixe cego e albino do gênero Rhamdiopsis. Peixes troglóbios não são tão raros nas cavernas brasileiras, no entanto esse tem uma forma genética de despigmentação que é única entre esses peixes. O que pode indicar que ele seja mais antigo que os demais peixes troglóbios brasileiros. 
Peixe troglóbio da Toca do Gonçalo. Mais informações no link  o espetacular bagre cego do gonçalo

Além do bagre cego. Nas águas da Toca do Gonçalo também nada um crustáceo bastante intrigante, Com o nome cientifico de Pongycarcinia esse pequeno animal é considerado um espécime relicto, isto é, organismos que já foram abundantes no passado, mas que agora estão separados em localidades restritas. Nesse caso um exemplar na Venezuela na bacia do rio Orinoco. E outra na região semiárida do Brasil, Bacia do rio São Francisco.

3 pequenos exemplares dos crustáceos relictos encontrados no Gonçalo. Mais informações no link crustáceo troglóbio


E agora através de mais um estudo realizado pelos pesquisadores da UFLA, A ciência tomou conhecimento de um novo troglóbio notável: O Cryptops spaeloraptor


O animal em questão faz parte do grupo conhecido popularmente como lacraias e centopeias são os chamados Miriápodes. (Miri = mil; Podes = pés). Todos os Miriápodes são terrestres e facilmente distinguidos pelo corpo dividido em apenas duas partes, a cabeça e o tronco longo e multissegmentado, possuem antenas e maxilas na cabeça. Dentre os miriápodes os mais comuns são os diplópodes que possui uma infinidade de nomes populares e são conhecidos a depender da região do Brasil como: Embuás, Gongolos ou piolhos de cobra. Eles são inofensivos e seus segmentos possuem dois pares de penas. São comuns em cavernas, tendo inclusive representantes troglóbios.

Um diplópode relativamente comum em cavernas. mas também encontrado em ambientes externos.

Além dos diplópodes  existe entre os miriápodes a classe dos Chilopoda (quilópodes).
Nos Chilopoda os numerosos segmentos do corpo possui cada qual apenas um par de pernas, e o primeiro par é modificado em grandes garras de venenos chamados de forcípulas, mantido sob a cabeça como peça bucal. Esses quilópodes são categorizados em várias ordens dentre essas ordens a mais conhecida é a ordem Scolopendromorpha em que estão agrupados os animais chamados popularmente de lacraias ou escolopendras. 
Centopeia gigante da Amazônia. Um representante dos quilópodes . foto internet.

A pequena e notável lacraia descrita da Toca do Gonçalo faz parte do gênero Cryptops.
Algumas dezenas de outros Crytops troglóbios já foram descritos no Mundo para cavernas na Espanha, Cuba e Austrália.  No Brasil ocorrem oito espécies de Cryptops.
Mas, a que foi encontrada no Gonçalo tem uma característica única que a diferencia de todas as espécies de lacraias até então conhecidas e que justifica o nome escolhido de espeleoraptor. 


O Crytops encontrado em Campo Formoso ganhou o nome de Cryptops spaeleoraptor.
O nome trás referencia as palavras latinas Spelaeus que significa que vive em cavernas e da palavra raptor que significa "o que captura", " o que sequestra" (esse adjetivo ficou conhecidos pelos dinossauros raptores como os velociraptores apresentados na trilogia Jurassic Park). 


O Crytops do Gonçalo é um raptor devido a característica única desse incrível bicho que é a presença de dentes serrilhados no ultimo segmento de cada par de pernas, que provavelmente constitui um dispositivo de predação ou pra uso defensivo.

Além dessa característica única o animal tem como troglomorfismos uma antena extremamente longa e com muitas cerdas. O comprimento total deles é de 17 mm e as antenas possuem 3,5 mm.  A cabeça e a parte anterior do tronco são amareladas enquanto que as pernas e partes posteriores do tronco são despigmentadas. 
Esses são os troglóbios raptores da Toca do Gonçalo 

 A. Detalhes, do corpo despigmentado e suas longas antenas com cerdas. B visão ventral da cabeça mostrando as forcípulas. 

Os dentes serrilhados encontrados nas pernas desses Cryptops e que os diferenciam facilmente de qualquer outro Cryptops do mundo, conferem a eles uma clara vantagem na predação, considerando que cavernas são ambientes que possuem escassos recursos alimentares essa característica poderia trazer uma vantagem evolutiva nesses animais para capturar presas como baratas e grilos (incluindo um que só existe no Gonçalo, que seria o primeiro registro de grilos troglóbios no Brasil, que ainda não foi publicado) e especialmente captura de traças troglóbias da família Nicolettidae. A presença dessas diminutas traças que já eram conhecidas de outras cavernas campo-formosense sempre cogitou a possibilidade de um predador em processo de co - evolução. 
Detalhes dos dentes serrilhados em uma das pernas do Cryptops spaleoraptor


Porém ainda existe a hipótese desses dentes serrilhados dos Cryptops serem utilizados para defesa contra predadores especialmente devido a grande população de aranhas troglóbias da família Prodidomidae que assim como os grilos troglóbios ainda não foram descritos pela ciência. Essas aranhas foram encontradas no mesmo local que foi coletado o Cryptops spaeleoraptor. Embora a caverna seja visitada por pesquisadores desde 1998, até hoje só um exemplar de Cryptops fora encontrado o que pode sugerir extrema raridade.
Os pesquisadores da UFLA e eu em coleta na Toca do Gonçalo. 2010.


As informações postadas foram de uma tradução livre do artigo publicado na revista cientifica  ZOOTAXA e gentilmente cedida pra gente pelo pesquisador Rodrigo Ferreira o DROPS.  Qualquer erro encontrado é da tradução e não do artigo.

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