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domingo, 25 de outubro de 2015

A CRÔNICA INCOMPLETA DE UM ESPELEÓLOGO QUE FOI CEDO DEMAIS; Um tributo a Filipe Lima Kupi.

É da natureza da espeleologia que os integrantes confiem suas vidas uns nos outros e, portanto, os laços se estreitem e passamos a considerar um ao outro como parte da família. E quando soube em meio à correria de uma pesquisa de campo, que Kupi tinha sido tragicamente atropelado e sua vida fora ceifada, a dor que senti foi a da perda de um ente querido da família. Kupi, não pode ser verdade que está morto!


Essa postagem é um lamento e uma homenagem para um jovem espirituoso com humor que se assentava em piadas sobre ele mesmo. Com seu profundo conhecimento que combinava literatura e cultura pop. Kupi fez história em cada expedição que participou tentarei relembrar algumas dessas histórias.



Quando ensinava biologia no colégio Sacramentinas na cidade de Senhor do Bonfim. A cada início do semestre realizava uma excursão com os alunos do 1º ano do ensino médio pra apresentá-los a beleza da natureza e o amor que tenho pelas cavernas. Ocasionalmente essa paixão que tenho pelo mundo subterrâneo contagiava alguém e foi assim que começou a história de Filipe Kupi na espeleologia.


Depois que ele foi à primeira excursão com sua turma, ficou no meu pé insistindo e argumentando como poderia ser útil que o levasse com as outras turmas do mesmo ano e dos anos posteriores e foi assim que ganhei um amigo e um parceiro para as aventuras nas cavernas.
Filipe Lima Kupi: Membro efetivo da Sociedade Espeleológica Azimte. 2014-2015.


Ainda com o grupo antigo de espeleologia na época chamado (caactus espeleo). Kupi participou de duas expedições importantes: 

A expedição pra Euclides da Cunha, que ele conheceu os principais integrantes do que viria se tornar a Sociedade Espeleológica Azimute e foi nessa expedição que ele começou a classificar “os mitos” de cada expedição.



Em janeiro de 2014 participou da expedição discos voadores, que segundo Kupi foi a melhor expedição que ele participou. Nessa expedição descobrimos seu valor como navegador. Lendo os mapas topográficos foi o responsável por nos tirar de um labirinto. 

Na Toca da Boa Vista sua caverna favorita, reclinado na escada com sua pose clássica de braços cruzados.


Em Março de 2014 fundamos a Sociedade Espeleológica Azimute e realizamos expedições mensais as cavernas do norte baiano. Kupi se orgulhava de ter participado de todas as expedições desse ano. A expedição de inauguração da SEA foi uma grande aventura na toca da barriguda para o local conhecido como “a passagem do homem geleia”. Lembro bem do seu entusiasmo e sua autoconfiança.


Foto oficial da Expedição homem geléia


Em abril a expedição foi para Mirangaba. Enquanto mapeávamos a caverna do Paranazinho, Kupi gostava de ser do grupo dos exploradores que seguia na frente averiguando cada pequena fresta que ele podia passar. Em uma dessas explorações ele ficou entalado se rastejando. A gente sem conseguir avistá-lo perguntava se estava tudo bem? E ele devido ao esforço não conseguia formar uma frase e apenas emitia gemidos. Foi o suficiente pra arrancar risadas durante toda a expedição;

Kupi na gruta do Santo Antônio em Mirangaba - Bahia.


Na hora do acampamento estávamos com barraca de Camping sobrando e cada um armou sua barraca e foi dormir. Tomei um susto ao acordar na minha barraca com Kupi enrolado com minha blusa de frio. Perguntei: - por que não foi dormir na tua barraca? - vim conversar com o mito dos mitos - respondeu ele. Sem querer admitir que era apenas medo de dormir só.


Acampamento na cachoeira do campo do meio em Mirangaba.


Em junho foi à expedição para Toca da Pedra. Foi nessa expedição que ele iniciou a tradição de: Após a exploração, durante as refeições cada um de nós teria que contar o pior e o melhor momento do dia. Descobrir mais tarde que ele tinha arquitetado esse plano com um objetivo. Com a ousadia que lhe era particular, na sua vez de responder ele mandou - melhor momento do dia conhecer a Jéssica. Todos caíram na risada.


Durante as refeições pós exploração, Kupi fazia sua marcante pergunta de pior e melhor momento.



Em Agosto foram duas expedições: a primeira para o salão Caatinga na Toca da Barriguda onde ele venceu seu medo de altura e fez seu primeiro rapel. Não sem antes resmungar muito.



A segunda expedição de agosto foi tentar pela segunda vez atravessar o convento. Ele estava determinado e não parou de reclamar um minuto por eu ter abortado a expedição no meio do caminho. Esse era o jeitão inesquecível dele.

Outra história impagável foi durante o caminho de volta pra casa. Todos zoando ele pra ele se declarar pra Jéssica e ele manda a pérola para um dos participantes. - "Vem cá? Te conheço de onde pra tu tá com essa ousadia comigo?" Esse bordão” te conheço de onde..” perdurou por umas três ou quatro expedições!

No ônibus a interação com todos. Eu particularmente sentirei bastante falta das nossas conversas e fofocas.


Kupi ainda participou de mais sete expedições entre agosto de 2014 e agosto de 2015, em cada uma delas deixou sua marca em histórias engraçadas e emocionantes que levariam muitas páginas para serem contadas.

A última que ele participou foi em agosto de 2015. Voltamos ao convento pra tentar fazer a travessia; Visivelmente Filipe Kupi era o mais entusiasmado para cumprir o objetivo que não conseguimos em agosto de 2014.

Foto oficial da Expedição travessia do convento a 3ª tentativa Agosto de 2015. Em pé: Ivomar Gitânio, Altemar Serafim, Alexandre Santos, Cláudia Torres, André Vieira, Jéssica Dias, Jorgean Silva, Edson Silva, e Anderson Lima. Agachados: Filipe Kupi e Lucas zeroum.

A última conversa que tive com Filipe foi sobre a crônica dessa expedição travessia do convento que ele pediu pra escrever. Ele estava atarefado com o retorno das aulas na UNEB e combinamos que eu faria uma parte da crônica e ele completaria mais tarde, no entanto, lamentavelmente o mais tarde nunca chegou.


Acabei sabendo que a crônica está no seu computador e assim que os familiares passarem para gente vou postar na integra a visão dele da sua última aventura espeleológica. 



A foto de capa do facebook de Kupi é uma montagem com as fotos oficiais das expedições de 2014 com a legenda que agora é claro, tem uma ressonância trágica: "Porque dessa vida não se leva nada, a não ser os verdadeiros amores"



Esse amor que Kupi tinha pela espeleo será eternizado em suas crônicas. E de agora em diante vamos instituir que toda expedição no mês de outubro terá como nome: expedição Kupi; 



E as futuras gerações de espeleólogos talvez um dia entre em um salão com esse nome e perguntem o porque do nome salão kupi e explicaremos quem foi o jovem brilhante cuja a capacidade de aproveitar o máximo seu tempo de vida foi tão admirável quanto a sua perspicácia genuína.






Saudades eternas amigo kupinikovsk .. foi um privilégio compartilhar todos esses momentos contigo. 

7 comentários:

  1. Sabemos pouco sobre as pessoas com as quais convivemos, mas a autenticidade de umas são detectadas bem cedo. Eu quando ele tirava a barba: diga aí novinho!

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  2. Puxa, uma perda lastimável de um jovem explorador de cavernas. Meus sentimentos aos companheiros dos subterrâneos...abraço, Afonso.

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  3. Realmente partiu muito cedo. Meus sentimentos aos amigos.

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  4. Estará nos acompanhando lá de cima!!!
    Sempre nos acompanham...
    Meu sentimentos.

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  5. Meus sentimentos aos espeleólogos do grupo !

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  6. Ele continua entre vós - seja na memória, seja num murmurio de uma corrente de ar no fundo da caverna mais funda - Kupi sempre estará entre vos. Com todo orgulho genuino e autentico que um pai pode ter, agradeço a ele o tanto que me ensinou e a vos o tanto que ensinaram a ele.

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