Química, religião e ilusões na GRUTA DO CONVENTO

Situada no povoado de Casas Velhas a mais ou menos 100 Km da sede de Campo Formoso. A gruta do Convento também conhecida como Gruta do Salitre atrai romeiros há muitas décadas, tornando se assim a principal caverna de turismo religioso na região norte da Bahia.
A caverna já era conhecida desde o século XVII, por exploradores de salitre do povoado próximo de Abreus. Foi mapeada pela primeira vez em 1970 pela SEE (Sociedade Excursionista Espeleológica).

Igreja do povoado de Casas Velhas -Campo Formoso, ao lado fica a fazenda onde está localizada a Gruta do Convento. foto do arquivo Caactus 2010.

Atualmente a região atrai milhares de pessoas no mês de Agosto, que visitam a gruta por questões religiosas e depois festejam até o sol raiar no bar das grutas, evento realizado pelo Sr. Dermeval, que é o atual dono das propriedades onde situam o bar das Grutas.

Alunos do colégio Sacramentinas de Senhor do Bonfim, visitando o Clube das Grutas onde ocorre a tradicional festa.

O que exatamente os religiosos procuram nas Cavernas ? 
Ainda na Bahia temos a visitação da Lapa Doce na cidade de Iraquara, a gruta da Mangabeira na cidade de Ituaçu e sem duvida nenhuma a mais famosa das cavernas que atraí romeiros é a da cidade de Bom Jesus da Lapa.

Presépio da Lapa Doce em Iraquara - Chapada Diamantina Ba. visto de determinado angulo os espleotemas fazem lembrar a cena do presépio com a Virgem Maria, os reis magos e tem até quem veja uma manjedoura com o menino Jesus.

Imagem da "santa" do convento.

  Em todas elas o atrativo é o mesmo, formações rochosas que lembram imagens antropomorfas (em forma de humanos) e que as pessoas rapidamente associam a santos e santas. Além disso, as demais formações encontradas em cavernas são tão incríveis que a frase mais comum das pessoas ao visitar uma caverna como essas é que estão diante a uma prova da existência do criador.

A incapacidade de explicar como algo assim pode ser feito, é portanto, para essas pessoas o principal motivo de toda a admiração que é sentida ao visitar essas cavernas. 

No entanto, a explicação científica da formação de tais estruturas, longe de tirar a magia, faz com que nossa admiração cresça ao entendermos como reações químicas tão simples podem construir algo tão grandioso.

 Vou usar os espeleotemas (formações geológicas em cavernas) da Gruta do Convento, para esclarecer a ilusão da imagem projetada e a verdadeira e muito mais interessante explicação de como crescem e se formam esses espeleotemas.

Primeiro uma palavrinha sobre as imperfeições cognitivas e perceptivas humanas que faz com que vejamos rostos e corpos humanos onde não existem.
Os humanos, como outros primatas, são um bando gregário. Gostamos da companhia uns dos outros.  Os pais sorriem para a criança, a criança retribui o sorriso, e com isso se forja ou se fortalece um laço. Assim que o bebê consegue ver, ele reconhece faces, e sabemos agora que essa habilidade está instalada permanentemente em nossos cérebros. Os bebês que há 1 milhão de anos eram incapazes de reconhecer um rosto retribuíam menos sorrisos, eram menos inclinados a conquistar o coração dos pais e tinham menos chance de sobreviver. Nos dias de hoje, quase todos os bebês identificam rapidamente uma face humana e respondem com um sorriso bobo.

Como um efeito colateral, o mecanismo de reconhecimento de padrões em nossos cérebros é tão eficiente em descobrir traços humanos em meio a muitos outros pormenores que as vezes vemos esses traços onde não existe nenhum.

 Reunimos pedaços desconectados de luz e sombra,e inconscientemente tentamos ver um traço humano. Sendo assim, vemos imagens em nuvens, em legumes e em janelas de vidro, quando o rosto é de um personagem religioso, como por exemplo a face de Nossa Senhora ou de Jesus, os crentes tendem rapidamente a deduzir a mão de Deus. 

A imagem nesse vidro foi associada a Virgem Maria. E levou milhares de pessoas a fazer preces na garagem de um casal de paulistanos em 2002. Fonte: Revista Isto é.

Sei que o tema das minhas postagens é sobre cavernas, mas vale a pena me alongar um pouco mais e falar sobre esse caso da santa na janela antes de voltarmos a falar sobre cavernas. 

Em agosto de 2002, um casal da cidade de Ferraz Vasconçelos na grande São Paulo perceberam que tinham uma imagem na janela que parecia a imagem da Virgem Maria, Com o boca-a-boca, centenas de pessoas passaram a se acotovelar na pequena garagem da casa dele, disputando um lugar na frente da janela. O fato virou notícia nacional e a casa, um centro de romaria. 

Famosos, como o apresentador Gugu, Pedro de Lara e a cantora Elba Ramalho, também foram a Ferraz conferir a história. Elba, que escreve um livro sobre Nossa Senhora, foi ver a imagem e convencer a família de Antônio a não permitir que o vidro seja retirado para análise. “É um sinal de Deus que tem de aumentar a fé das pessoas e não ser levado ao laboratório”, diz ela. Não demorou muito para os químicos explicarem o que aconteceram em termos de reações químicas: uma solução aquosa quando o vidro estava armazenado reagiu retirando minerais do vidro e produzindo a imagem.  Os detalhes dessas reações químicas que explicam a imagem do vidro pode ser vista no link do youtube http://www.youtube.com/watch?v=A0f6Rf6MGyc

Assim como no caso do espelho, a rocha é formada por elementos químicos e sofre com o processo de intemperismo (uma alteração dos seus minerais) o que esculpe feições na rocha e que nossos cérebros ansiosos por ver traços humanos insistem em identifica los como imagens de representações humanas. 
Vamos ver em linhas gerais como se forma uma caverna e seus espeleotemas.
As cavernas são formadas em uma rocha, as rochas por sua vez, são constituidas de minerais. As principais cavernas se desenvolvem em rochas chamadas de carbonáticas, essas cavernas carbonáticas possuem como minerais principalmente o carbonato de cálcio que os químicos escrevem como CaCO3 e que também pode ser chamado de calcita. 

A calcita apresenta mais de 300 formas de cristalização pode ter diversas cores, mas o traço é branco e reage com ácido clorídrico produzindo um borbulhar que é de gás carbônico. fonte: Wikipédia.

A calcita forma grandes massas rochosas que podem ocupar quilometros e que foram formadas em epocas remotas em lugares que anteriormente eram mares. Essas massas rochosas de calcitas são estáveis e pouco solúvel; Porém, a água mesmo que levemente ácida pode provocar uma reação química conhecida como dissolução chamamos intemperismo a degradação de uma rocha e a dissolução é um tipo de intemperismo que degrada a rocha, nesse caso á agua ácida começa formando estreitas fendas na rocha de dimensões milimétricas ou menores ainda que milimetros. Essas fendas vão se interconectando até até que a erosão provocada pela solução deixe um espaço na rocha suficiente para que um grande fluxo de água possa penetrar na rocha. Um rio subterraneo então é formado e os espaços vazios deixado por esse rio quando ele seca ou ficar mais baixo são os condutos das cavernas.

Um conduto da gruta do convento, mostrando o tubo na rocha formado por longos períodos em que a água escorreu por aqui. 

Esse é o conduto principal o fluxo de água que passava por aqui pra formar esse conduto que chega a 12 m de altura e 30 de largura era de um rio caudaloso. 

Logo após a caverna já existir na forma de condutos, infiltração de agua das chuvas podem vim formando canaliculos dissolvendo a rocha em direçao ao conduto. Essa água de infiltração vai formando uma estrutura no teto conhecida como estalactites. Pela mesma reação química de dissolução que escavou o conduto. vamos ver o esquema abaixo pra falar um pouquinho de química

Quando o gás carbônico da atmosfera se combina com água forma um ácido chamdo ácido carbonico é o H2CO3  esse ácido forma uma soluçao que vai atacando a rocha e provocando a dissolução do CaCO3 que na figura tá representada pelo calcário que é um outro nome para a calcita. o que os químicos querem dizer com a palavra dissolução é que o vai separa o elemento Calcio (Ca) do composto carbonato (CO3) esse composto CO3 se combina com hidrogênios da água formando o que os químicos chamam de bicarbonato e agora separados eles deixam de ser insóluveis e passam a ir junto com a água deixando os canalículos na rocha. Quando essa agua carregando os mierais sóluveis Ca e (HCO3) esse ultimo é o bicarbonato, entram em contato com o conduto que ja havia se formado milhões de anos antes. A reação química vai se inverter, a solução perde CO2 e H2O e volta a formar a calcita (CaCO3) rocha insóluvel.. essa calcita vai crescendo vagorasamente no teto, formando as estalactites, e ao mesmo tempo vai gotejando no piso do conduto solução contendo os minerais separados Ca e bicarbonato, que ao bater no piso  perde água e CO2 e forma a calcita, essa estrutura de calcita que vai crescendo no piso chamamos de estalagmite.  No teto as estalactites são sempre pontiagudas, no piso as estalagmites tomam formas arrendodadas que lembram cabeças, e aí vcs lembram da história do nosso cerébro que encontra traços humanos em qualquer ambiente.

Algumas estalactites e estalagmites em um salão pouco visitado do convento! a história desse local merece uma postagem só pra ela.

A postagem já se estendeu muito aguardem a próxima pra entender mais sobre as formações de cavernas!