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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

PARNA BOQUEIRÃO DA ONÇA PARTE 2: A expedição Maribé





Exatos 05 anos após nossa primeira investida na área do sonhado Parque Nacional Boqueirão da Onça, O inestimável Josan Cláudio, novamente lidera uma expedição para visitar á Área do Parque, dessa vez iríamos a Sento - Sé, via serras de Umburanas - Ba; 
O objetivo além de registrar a biodiversidade, era também conhecer um importante aspecto histórico da região, um antigo garimpo de cristal, explorado por Norte - Americanos; 
Josan convidou para essa expedição integrantes do grupo Veredas, um experiente grupo internacional de caminhada e aventura, da qual faz parte Carlos "PINTO" o geólogo da FERBASA (Empresa de Mineração), Pinto trouxe, sua filha que estuda oceanografia, e seu braço direito na FERBASA, conhecido pelo seu sobrenome, o Galvão, que por sua vez trouxe sua digníssima esposa à bióloga Patrícia Galvão; 
Ainda fazendo parte do grupo Veredas, estavam: Adiran Hanzi e Adrian Gouw, Christian, Tania Ribeiro e Joselyta Menezes "Josy"; Completando a expedição os integrantes do grupo CAACTUS: Josan e seu irmão "O Velho DAL" Gilmar d´Oliveira e eu André Vieira;
Partimos em 4 carros tracionados, 3 Toyotas e a famosa "Lady Laura" do velho Dal.
Os caminhos percorridos no sertão da Bahia, o detalhe dos Off Road, 3 gerações de Toyota: a velha e boa Bandeirante (BOB ESPONJA), a velha Hilux AM 47 e a nova Hilux AM -77 e é claro o F75 com motor de trator e placa da califórnia conhecido pelo codinome  " Lady Laura"

A primeira parada foi o almoço no Delfino, Umburanas - Ba; Na casa do nosso amigo, Paulo Sérgio, lá encontramos nosso guia local que trabalhou e ainda trabalha com garimpo de Cristal e conhece bem as serras que queríamos visitar.
Parada no Delfino,Umburanas - Ba. Primeira foto  da esquerda pra direita : na praça do Delfino, Carlos, Galvão, Patricia, Eu e Adrian Hanzi; Segunda foto: na calçada do amigo Paulo Sergio: Galvão, Eu, velho Dal, Gilmar, Hanzi e Adrian Gouw; Embaixo detalhe dos últimos ajustes na " Lady Laura"


Depois de subi as serras que levam ao curral frio, chegamos ao local do acampamento, um lugar chamado Licuri do Gonzaga, lá encontramos uma antiga igreja, um cemitério com uma única sepultura e uma antiga casa de farinha.

Antiga Igreja no Licuri do Gonzaga, abaixo detalhe da cruz estilizada


O cemitério ao lado da igreja com uma única sepultura.
Um detalhe do que estava inscrito na sepultura, parece que reescreveram acima o que ja está sendo deteriorado pelo tempo abaixo. Uma data está legível 1869 provável data de nascimento, a outra parece algo como 1910. 


Artefato encontrado dentro da Igreja, a primeira geração de latas em folhas de flandres fabricadas no Brasil, provavelmente da década de 90.

Após montar o acampamento e preparar a feijoada para o outro dia, vivemos o que todos concordaram ter sido o ponto alto da Expedição, um momento surreal! Enquanto esperávamos a lua cheia dar o ar de sua graça, em uma noite especialmente nublada, Adrian Hanzi, nos brindou com uma excepcional apresentação de violino, tocando de pixinguinha a scorpions, juntamente com Adrian Grouw que o acompanhava com um violão, arrancou aplausos e a emoção de todos os presentes.
  
Registro de um evento inusitado, concerto de violino em uma noite sertaneja;



No dia 03 saímos cedo para visitar o antigo garimpo de cristal, no lugar chamado curral frio, fotografamos as serras que emolduram as paisagens nessa área, em seguida paramos no ponto mais alto onde era possível avistar no horizonte a serra das almas de um lado e a serra da cachoeira da conceição do outro, mesma cachoeira que visitamos na expedição de 2007.
Vale também o registro da biodiversidade, ver fotos abaixo


Um exemplar de Quesada gigas, a cigarra mais comum no Brasil, as cigarras são insetos bastante interessantes, elas passam a maior parte da vida enterrada e sugando seiva enquanto estão na fase de larva, chegam a passar de 03 a 04 anos enterradas, até chegar a fase reprodutiva onde sincronicamente todas elas saem do chão e em uma explosão populacional fazem a festa dos seus predadores, Os machos cantam sem parar, no seu ritual para atrair a femea, o canto é característico de cada espécie. O "canto" na verdade é a forte vibração de um músculo no abdome desse incrível inseto da família dos Cicadideos. Elas costumam aparecer depois do período das chuvas, aqui no sertão de setembro a dezembro.Foto: André Vieira


Uma lindíssima foto da borboleta Junonia evarete , essa é uma borboleta heliófila, isto é, que gosta de voar em locais ensolarados. Foto: André Vieira

Um ninho da formiga conhecida como falsa tocandira ou simplesmente formigão; são formigas carnívoras do gênero Dinoponera, sua picada é dolorida mas o veneno não causa danos em humanos, diferentemente da tocandira verdadeira da Amazônia que tem o veneno mais poderoso entre as formigas; uma curiosidade das Dinoponera é que não há diferenças morfológicas entre a rainha e as operárias; Fotos: André Vieira

O local onde fica o antigo garimpo é na parte mais alta da serra, o cristal era retirado do interior das rochas quartzítica, e era utilizado pra fabricar produtos eletrônicos; As casas do antigo garimpo eram feitas apenas com pedaços das rochas que são encontradas no local,  e o telhado de palha, contamos mais de 30 casas, a maioria delas só restavam partes das paredes, visitamos também uma mina abandonada.
Pilares de rochas que sofreram ação diferenciada do intemperismo, marca o local onde está o antigo garimpo de cristal;
Registro das casas de pedra dos antigos garimpeiros de cristal, de Umburanas e Sento - Sé.

Um pouco mais da biodiversidade encontrada agora vertebrados:

Um Dermatonotus muelleri, um sapo que embora não seja raro, é difícil de ser visto, devido a seus hábitos fossoriais. Foto; Gilmar d´Oliveira

Um Cnemidophorus ocellifer, conhecido como lagartinho do folhiço tem hábitos diurnos  prefere sair nas horas mais quentes do dia; Foto: André Vieira

Um sanhaçu - cizento  (Tangara sayaca) é uma das aves mais comuns do país,conhecido por suas acrobacias ao disputar frutos com outros pássaros. (Wikiaves) Foto: André Vieira

Embora uma mina não seja uma caverna, já que por definição caverna é uma cavidade natural, e as minas são feitas pela ação humana, vale registrar a fauna encontrada na visita de uma dessas minas de cristal; Foi identificada algumas colônias de Desmodus rotundus o nosso amigo morcego vampiro e uma imensa aranha da família Ctenidae.
Uma Ctenidae assustadoramente grande, encontrada em uma das minas abandonadas de cristal;

Vale o registro de uma chuva torrencial em cujo os pingos pareciam pedras em nossos corpos, ironicamente a chuva nos pegou quando estávamos a procura de um rio para banhar, já que fazia dois dias que ninguém tomava banho.

O velho Dal, e seu varal de botas, para secar os tênis exarcados da chuva que nos pegou no alto da serra;



A volta para casa não podia ser mais emocionante, já que "lady laura" faltou freio e na descida das ladeiras, todos cantávamos a musica de Roberto Carlos, " Lady Laura, me leva pra casa"

Essa postagem é especialmente dedicada a Adrian Hanzi, Essa foi a sua última expedição,  na mesma semana que  marcou a vida de todos os participantes com um evento inesquecível, sofreu um trágico acidente de carro.
 Descanse em paz, nobre amigo!

sábado, 17 de novembro de 2012

PARNA BOQUEIRÃO DA ONÇA PARTE 1: A expedição Conceição





No ano de de 2007 tomei conhecimento do projeto Parque Nacional Boqueirão da Onça, projeto do governo de 2002, para proteger o coração da caatinga, a ideia era dar proteção integral a 900 mil hectares abrangendo os municípios de Campo Formoso, Umburanas, Sento  - Sé, Sobradinho e Juazeiro, a área cercada de serras, com fauna e flora diversificada, fica em uma região de difícil acesso, com terra pouco valorizada, poucas estradas e com poucos habitantes, perfeito para conservação. Ver mapa abaixo.

Foto gentilmente cedida por Rangel Carvalho.


Ao longo de seis anos, estamos vendo o governo sofrer pressões das mineradoras e das empresas de energia eólica para que o parque não saia integralmente. Atualmente, O ICMBio, negocia com o ministério das Minas e Energia e o governo da Bahia não fala mais em um grande parque. Os trabalhos preveem a criação de um mosaico de unidades de conservação com uma área de 117 mil ha como monumento natural, 420 mil ha como área de proteção ambiental (APA) e um pedaço de 317 mil ha para o parque nacional.

A importância de proteger essa área se dá pelo fato da caatinga ser o bioma mais vulnerável às mudanças climáticas. Na fauna, a região abriga uma grande população de onças pintadas, fato antes desconhecido na Caatinga, além de espécies quase extintas desse bioma, a exemplo da ararinha-azul-de-Lear, o tatu-bola, porco do mato-queixada e  o tamanduá-bandeira. Ainda na área do Parque está a Toca da Boa Vista, maior caverna da America Latina, cuja a proposta atual é que se torne um monumento nacional. Fonte : http://comitecaatingape.blogspot.com.br/2011/07/boqueirao-da-onca-o-parque-que-virou.html.



Em novembro de 2007, no feriado do dia de finados recebi o convite do grande amigo Josan Cláudio, do grupo Giramundo Pesca e Rallye, e que também faz parte do grupo CAACTUS, para fazer a primeira expedição na área do parque, iriamos conhecer a parte do Parque na divisa entre Campo Formoso e Sento - Sé.




Os integrantes da expedição Conceição: Josan Cláudio, Eric Godoy, André Vieira e Bruno Torres; ao fundo a Toyota Bandeirante de Josan, (também chamada de Bob esponja), em seus últimos ajustes antes da viagem!



A primeira parada da expedição foi na localidade de Lagoa Branca, Campo Formoso - Ba, subimos o cruzeiro e tive a oportunidade de ver o Rio Salitre, desde então, ao menos 3 vezes no ano passo por lá para expedições na Toca da Barriguda e nunca mais vi água,  apenas o leito vazio. Esse rio que nasce no município de Morro do Chapéu - Ba deságua no Rio São Franscisco, em Campos dos Cavalos município de Juazeiro - Ba, está tecnicamente morto devido a  35 barramentos sem nenhum critério técnico e hidrológico em seu pequeno curso de 333,24 Km, além de captação de suas águas para irrigação sem nenhum controle e  mineração em seu leito

O Rio Salitre passando pelo Povoado de Lagoa Branca, na primeira foto visto de cima da serra chamada de Cruzeiro da Lagoa Branca, a segunda foto visto da janela do bob esponja (carro).


Seguindo da Lagoa Branca fomos em direção ao povoado de Laje dos Negros, paramos em uma localidade chamada casa dos Ferreira, pra fazer uma pequena prospecção no maciço calcário que tá na entrada da localidade, visitamos alguns abrigos, muitos deles com abelhas na entrada, mas nenhum tinha potencial para uma boa caverna. 



A esquerda a vila conhecida como casa nova dos Ferreira e a direita o paredão calcário que é avistado logo na entrada da vila, é nessa localidade que se encontra uma importante caverna chamada Toca dos morrinhos.

Seguimos pra Laje, depois Gameleira do Dida, subimos a serra do cambão em direção aos tabuleiros

Foto da serra dos tabuleiros, um campo de altitude na divisa entre Campo Formoso e Sento - Sé.Aqui já estamos na área proposta para o Parque Nacional Boqueirão da Onça.

Essa vegetação arbustiva encontrada nos tabuleiros é uma planta chamada Microlícia  um gênero da família Melastomatácea, que é característicos de campo rupestre, e campo de altitude.

A primeira localidade de Sento Sé que encontramos depois do sobe e desce de serra após os tabuleiros, foi a localidade conhecida como Riacho de Santo Antonio, o sol estava se pondo quando chegamos na casa do seu Eliseu Ribeiro, ele acabara de conhecer a gente, e muito hospitaleiro e gentil, nos ofereceu pousada e café da manhã, ao invés de dormir dentro de casa Josan teve a brilhante ideia de colocar os sacos de dormir na calçada das casas pra admirar o céu do sertão, que sorte a nossa que escutamos o sábio Josan, não só dava pra visualizar um número incrível de constelações como é tipico das noites sem iluminação do sertão, como também por volta das 22 h presenciamos uma impressionante chuva de meteoritos que durou mais de 3 minutos , uma das coisas mais emocionantes que contemplei na natureza.


Essas são as casas da família do seu Eliseu Ribeiro( centro da foto de camisa azul sentado na cadeira).

Registramos aqui um exemplar do pássaro conhecido como Alma -de -gato (Piaya cayana) é um pássaro da família dos cucos, que tem uma cauda excepcionalmente grande que o torna inconfundível, O seu nome popular se deve ao fato de que mesmo com esse tamanho consegue se deslocar silenciosamente na mata aparecendo misteriosamente como uma alma e seu canto se assemelha a um gemido de gato.


As 10 da manhã do dia 03 de novembro chegamos ao nosso objetivo, a serra que abriga a cachoeira da conceição, a cachoeira é enorme, mas tava com pouca água. 



Na primeira foto, visão do alto da serra onde está a cachoeira da conceição em Sento - Sé - BA, abaixo a cachoeira que atinge cerca de 60 metros, mas que no dia estava com pouco volume d água.

Depois de cumprir a missão de conhecer a Conceição voltamos, mas antes colhemos informações sobre pinturas rupestres que teriam no Riacho, chegamos no local das pinturas, um abrigo nas margens de um leito de rio que está seco. Enquanto fotografávamos as pinturas o Bruno ficou procurando diamante no leito seco do rio, ele me chamou pra mostrar um cristal que encontrou e foi quando me deparei com algo incrível, gravuras rupestres talhadas no leito do rio, algumas das gravuras coincidiam com as pinturas do abrigo, aquela descoberta foi fascinante, o senhor que nos acompanhava e que mostrou onde estavam as pinturas nunca tinha reparado naquelas inscrições e até hoje, ainda não tem nenhum estudo ou publicação oficial sobre elas. 




Leito seco de um rio, na localidade de Riacho de Santo Antônio, Sento Sé - Ba. Na margem um abrigo contém dezenas de pinturas rupestres. Foto: Arquivo CAACTUS.

Algumas das pinturas rupestres encontradas no Riacho, a maioria das pinturas era com traços no interior de um circulo. Algumas lembram uma estrela de 5 pontas outras lembram o desenho de um sol com raios luminosos, o que alguns arqueólogos chamam de tradição astronômica.

Algumas das gravuras esculpidas no leito do rio, elas parecem repetir os mesmos motivos das pinturas na parede, seguindo a tradição astronômica.  As fotos estão muito ruins, o que é um bom motivo para voltarmos lá em uma próxima expedição para fotografa las com qualidade. Fotos: Arquivo CAACTUS.



Voltamos pra Campo Formoso e fomos acampar na Mata Roçada, que fica em uma serra próxima a Gameleira do Dida, quando estávamos levantando acampamento aparece Seu Dário, um dos moradores da Mata roçada, ele perguntou o que estávamos procurando, e Josan que já o conhecia disse, que procurávamos por pinturas rupestres, ele respondeu dizendo que conhecia umas na Mata Roçada, então vamos lá vê essas pinturas antes de ir pra casa.





Levantando acampamento pra ir ver as pinturas da Mata Roçada.


Algumas das pinturas da Mata Roçada, algumas pinturas tinhas as mesmas características astronômicas das vistas em Riacho, Sento - Sé, mas também aqui tinha mãos, representações de animais, e muitos antropomorfos. 




Quando já estávamos todos encantados com as pinturas da Mata Roçada, Seu Dário, nos avisa que ainda tem mais painéis, um pouco mais a frente tem pinturas maiores disse ele, fomos lá conferir e qual não foi nosso espanto ao ver pinturas antropomorfas de tamanho quase real de um vermelho sangue vivo e assustadoramente mostrando o que nos pareceu humanos sendo torturados.


As pinturas desse painel da Mata Roçada são pintadas por cima de outras, o que pode sugerir, que sejam de grupos diferentes, o vermelho é intenso o tamanho  de algumas  passa de 1 m representando humanos com a cabeça cortada, e pingando liquido do falo, outas apresentam o antropomorfo de cabeça para baixo e com os braços esticados e pernas cortadas. Em outras palavras IMPRESSIONANTES.


Essas pinturas foram estudadas por Gilmar D´Oliveira em sua monografia para conclusão de curso de Ciências biológicas pela UNEB campus VII. Segundo Gilmar as pinturas se assemelham a Tradição São Francisco que é mais antiga e ele não vê elementos da tradição astronômica nas pinturas da Mata Roçada; E os corpos mutilados estariam relacionados com a tradição Agreste, mas é necessário estudos mais aprofundados para comprovação dessa relação;
O antropomorfo vermelho que parece está com a cabeça cortada segundo Gilmar D´Oliveira pode está relacionado a um ritual indígena em que índios se vestem com fantasia em que parecem estar sem cabeça.