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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A TRAVESSIA DO CONVENTO: A 2ª TENTATIVA

Em 2010 a falta de equipamento e o fator surpresa foram nossos principais impedimentos para realizar a tão sonhada travessia completa da lapa do convento. Naquela ocasião tentamos a entrada mais ao norte (Conhecida como buracão) para sair na entrada clássica orientada para o sul magnético. Fomos surpreendidos por lagos cristalinos de profundidade desconhecida, e como estávamos sem equipamento (mochila estanque, botes, coletes e outros equipamentos apropriados pra travessia em lagos) fomos obrigados a retornar na metade do caminho e deixar para outra vez essa empreitada.


Quatro anos após a primeira tentativa de travessia estávamos determinados a concluir essa missão que tinha ficado engasgada em 2010. Dessa vez iríamos preparados com todo material aquático necessário e estávamos dispostos a realizar um objetivo ainda maior que a simples travessia, desbravar um conduto estreito que só foi percorrido uma única vez na década de 80. A exploração desse conduto só é possível se o nível da água estiver baixo.




A expectativa tomou conta do grupo, e faltando uma semana não se falava em outra coisa nas redes sociais em que discutíamos as expedições. Até contagem regressiva estava rolando.  
O grupo SEA no Whats APP não parou durante a semana que antecedia a tão esperada Expedição

Eventos que aconteceram esse ano na região em que está à gruta somados com os já conhecidos obstáculos deram para essa expedição o apelido de expedição suicida.  Em abril desse mesmo ano, durante uma visita a parte turística da caverna algumas pessoas contraíram histoplasmose e tiveram que ser hospitalizadas. O outro fator foi que em Maio ocorreu na região uma chuva torrencial como há muito tempo não se tinha noticia. E havia a expectativa de que essa chuva tenha elevado o nível da água dentro da caverna deixando os lagos que já eram profundos intransponíveis. 

Chegou o grande dia, o sábado do dia 23 de agosto de 2014, com tanta propaganda que foi feita da expedição, era de se esperar a participação em massa dos membros da Sociedade Espeleológica Azimute (SEA).  Isso acabou se revelando um problema. Nas ultimas semanas já havia a discussão sobre um numero ideal de participantes em cada expedição, como não entramos em consenso ficou livre a participação de todos os membros e ainda pra complicar alguns membros convidaram amigos em cima da hora o que deixou a expedição com um contingente de 26 participantes. 

Foto antes da exploração. Em pé: Cristiane, Lucas, Agrícia, Altemar, Hiago, Jorgean, André, Manuel, Tereza, Paulo, Gilson, Jéssica, Ivomar, Anderson, Cláudia, Betinho, Kupi. Agachados: Edson, Adriano, Virgínio, Marcus, Brexó, Mateus e Ágata.  Faltam na foto Ney e John.
A equipe completa no pós exploratório.
E pensar que na era " CAACTUS" as expedições eram conhecidas com expedições pascoa! agora temos até concurso de musa da SEA.  Jéssica Carolyne na frente; Atrás: Cristiane Chayene, Cláudia Torres, Tereza Rachel, Ágata Correia e Agrícia Nielle.

Essa expedição marca também um novo compromisso da SEA que é contribuir de alguma forma para as comunidades carentes que ficam nos povoados próximos as cavernas.  Seguindo a ideia de Jorgean, nessa expedição distribuímos cestas básicas para algumas famílias necessitadas.

entrega de cestas básicas.

Todos prontos pra encarar a travessia, dessa vez optamos por fazer o caminho inverso ao que tentamos em 2010. Agora entraríamos pela entrada clássica pra tentar chegar ao lado oposto na entrada buracão.  E nesse percurso nosso primeiro momento de tensão foi logo antes de entrar na caverna.  Duas colmeias guardavam a entrada clássica, aparentemente elas estavam calmas e como a entrada é larga e com teto alto, parecia ser tranquilo passar pelas colmeias. Organizamos em fila indiana e ia entrando de cinco em cinco pessoas com um espaço entre os grupos e em silencio absoluto para não assanhar as abelhas. Esse primeiro obstáculo foi fácil. 

Caminhando em direção a entrada.


detalhes das abelhas.


visão interna da entrada.

Caminhamos poucos metros até nos depararmos com a lama, e logo em seguida  cruzamos um travertino que é como uma pequena muralha. Assim que transpomos o travertino nos deparamos com á tão esperada água.  Já imaginávamos que teríamos que enfrentar o alagamento. Mas não esperava que fosse logo ao começo da caminhada e principalmente não esperávamos que a água estivesse tão fria. 
conduto principal.


O travertino que divide o conduto transversalmente. Nesse ponto começava a parte alagada da caverna.



Quando o nível da água atingiu a cintura, começamos a elaborar uma estratégia. Distribuímos os equipamentos eletrônicos nas mochilas estanques. Inflamos um colchão para levar as mochilas com lanches. E esticávamos uma corda pra segurança. A grande maioria estava equipada com coletes salva vida como previamente planejado. Tudo parecia correr bem para que completássemos nossa travessia com sucesso. O plano era fazer uma parada na primeira claraboia. Claraboia é um desabamento do teto, permitindo que se tenha acesso a superfície e dividindo a caverna em duas partes. Para completar a travessia deveríamos passar por 4 claraboias.

As últimas fotos antes de ser obrigado a guardar o material eletrônico. 

 Mas o grande número de pessoas estava atrasando demasiadamente. O planejado era que completássemos a primeira etapa da travessia em uma hora e meia no máximo duas horas.  E 3 horas se passaram e não conseguíamos avançar devido aos trechos mais fundos. Começamos uma corrida contra o tempo, isso por que depois da primeira parada viria o trecho que nos era desconhecido e pior, se conseguíssemos cumprir nosso objetivo iriamos sair na superfície no meio da caatinga provavelmente no escuro e desorientados. Sem ideia de que lado ficaria a estrada pra chegar ao ônibus que nos trouxe. Teríamos então  que optar por retornar por dentro da água novamente, logo o tempo que estávamos passando dentro da água era preocupante. 


Foi então que apareceu o que seria determinante para decidir abortar a travessia no meio do caminho. Integrantes do grupo começaram a apresentar sintomas de hipotermia. Agricia Nielle e Mateus Henrique foram os primeiros a sentir as consequências de muito tempo dentro da água gelada. 

Nesse momento o uso das chamas das carbureteiras foram de grande utilidade para aquece - los, mas não foi suficiente. Para nossa sorte descobrimos por tentativa e erro um remédio para hipotermia. O novato Hiago apresentou para Mateus o remédio salvador e até que deu pra aquecer por alguns instantes.

  Ao chegarmos à parada programada,  e após observar que o próximo trecho que seria o mais longo estava completamente alagado ou seja, que seria mais quatro horas dentro da água resolvi convencer os integrantes que  a melhor ideia seria mais uma vez adiar essa travessia.  

Primeira claraboia.

O esperado era chegar aí 2 horas após a entrada. Levamos o dobro do tempo. Com Ágata machucada, Altemar com calafrios e os dois membros com sintomas de hipotermia. decidimos que interromperíamos  a expedição por aqui.

Ao fundo o trecho por onde, se continuássemos completaríamos a travessia. Percebe - se que ele já começa alagado. Combinamos que na próxima tentativa começaríamos desse ponto.

Ficamos mais uma vez com gostinho de quero mais. 
Após expedição ainda tivemos tempo para uma assembléia com o objetivo de  nomear Paulo nosso novo tesoureiro.

A maior lição dessa expedição foi ver a maturidade do grupo, o controle em situações extremas.

Não podemos deixar de fazer as coisas que gostamos, aquilo que dá alegria as nossas vidas por uma ou outra desculpa. Histoplasmose? Água? Altura? Hipotermia? Não importa qual é o seu medo, nada vai te proporcionar mais prazer do que superar seus limites e perceber que não é importante ser forte, mas sentir se forte.





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