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sexta-feira, 9 de junho de 2017

127 segundos no Talhado do Jacó





Abril passou em branco, sem nenhuma expedição oficial, e algumas pessoas já estavam me cobrando uma cavernada. 



Para evitar a síndrome de abstinência cavernícola, planejei para o mês de maio uma expedição simples para prospectar na área do povoado de Tiquara. Acessei o CANIE (cadastro nacional de informações espeleológicas) no site do ICMBIO e notei que tinha duas cavernas chamadas de Toca Baixa do Umbuzeiro I e Baixo do Umbuzeiro II que a gente não conhecia. Rapidamente nos reunimos e partimos em um único carro, sentido Tiquara em Campo Formoso- BA. 



Estávamos sem GPS, e confiando em um print de uma imagem do Google Earth para achar os pontos acessados no CANIE. Era óbvio que precisaríamos da ajuda dos moradores, e depois de várias estradas sem saída, resolvemos enfim, parar no povoado Baixa do Umbuzeiro e perguntar aos moradores se eles conheciam alguma Toca. 


“Toca a gente não conhece, mas logo ali tem o Talhado do Jacó” - Diziam os moradores que encontrávamos no caminho. 

Sendo assim, partimos para conferir o tal Talhado.

Expedição 05/17: Sivonaldo, Marcelo, André, Alexandre e Altemar.





Talhado é o termo utilizado para denominar uma escarpa no relevo cárstico, normalmente um morro testemunho remanescente de um carste, outrora bastante desenvolvido. Podemos ver pela imagem do mapa que o Talhado na Baixa do Umbuzeiro está alinhado com outros talhados já visitados em expedições anteriores.





Print do Google Earth, mostrando quatro pontos que apresentam uma geomorfologia semelhante, com escarpas calcáreas; Cada um desses pontos está distante em linha reta apenas 2 km do outro.


Ao chegar ao Talhado do Jacó nos espalhamos tentando achar alguma entrada ao redor da escarpa. Foi Alexandre quem a encontrou, e em pouco tempo já estávamos todos reunidos na estreita entrada. 



Antes de entrar notamos discretas pinturas rupestres na parede próxima a entrada.


Além das apagadas pinturas, também registramos estruturas nas rochas que podem ser indicativo de transporte por geleiras.



Ao entrar descobrimos que não se trata de uma caverna propriamente dita, e sim uma enorme fenda no talhado que foi preenchida por blocos que ficaram presos na fenda. Foi uma experiência diferente a que vivenciamos nesse dia, apesar de ficarmos pouco tempo explorando, já que da entrada até o final, medimos apenas 15 metros. A sensação de claustrofobia e principalmente o medo que um bloco despencasse e nos prendesse nos remetia a história de Aron Ralston. Essa história ficou retratada no filme 127 horas. O alpinista que ficou preso por um pedregulho que caiu e esmagou seu braço, num cânion do Parque Nacional de Utah nos Estados Unidos.



Abaixo, confira algumas imagens reais tiradas da câmera fotográfica do próprio Aron e compare com as que tiramos no Talhado do Jacó, guardadas as devidas proporções, a semelhança nos fez lembrar da história de Aron. 






Algumas fotos do Cânion onde Aron ficou preso por 127 horas até criar coragem de cortar o próprio braço pra se desvencilhar de um pedregulho.



 Fotos do Talhado do Jacó na Baixa do Umbuzeiro. 

Detalhe dos blocos soltos no alto da fenda.



Como foi rápida nossa prospecção no Talhado do Jacó, ainda havia tempo para mais uma atividade e portanto, resolvemos visitar a Toca do Clóvis Saback II. Apesar de já ter visitado a Clóvis I por diversas vezes, a Clóvis II que fica no piso da pedreira nunca tínhamos entrado. Dessa vez, com uma escada de espeleo, foi relativamente fácil fazer a decida e pudemos explorar dois charmosos salões. É digno de nota a quantidade de entulho que encontramos no piso da caverna.



Entrada da Clóvis Saback I
Visão interna da entrada.



Crânio de Equino encontrado entre garrafas e pneus. 

  E assim, nos curamos temporariamente da nossa síndrome por cavernar. Até a próxima!



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