Páginas

domingo, 14 de outubro de 2012

Expedição Toca do Gonçalo: O espetacular Taunaya





Feriadão do dia 12 de outubro se aproxima, ótima data para uma expedição. A dúvida era onde será a exploração dessa vez, poderíamos ir além do salão caatinga na Toca da Barriguda, talvez chegar no salão baita. Poderíamos ir também na Toca da Boa Vista, procurar o fóssil da onça; 
Estava certo para fazer parte da expedição Eu, Gilmar Oliveira, Rafael Figueiredo, Edemir Barbosa e Lucas Garboggini; 
Na véspera Rafael abandona o barco, e parte rumo a Fortaleza para um passeio romântico. Então somos só nós 4, que tal ir fotografar o peixe raro de Campo Formoso, lá na Toca do Gonçalo? Essa foi a ideia de Gilmar. Adotamos então a ideia, são 80 km de estrada de chão da sede de Campo Formoso até a Toca do Gonçalo então saímos de Senhor do Bonfim 07 da manhã, o plano era está na caverna as 10:00; Uma paradinha em poços para comprar o lanche, outras em Brejão da Caatinga pra pedir informações como chegar, e pronto, 10 horas estávamos na Caverna como planejado, graças ao habilidoso motorista e sua maquina de rally.



Os expedicionários: da esquerda pra direita, Eu, o motorista habilidoso; Lucas, o espeleólogo de primeira viagem, Gilmar, o Arqueofotografo e Edemir, o palpiteiro. 

A entrada da Toca do Gonçalo.

Assim que entramos minha paleocarbureteira deu chilique, ficamos quase meia hora tentando conserta la, e sendo atacados pelos infames Lutzumia longipalpis, também conhecidos como mosquito palha. Assim que consertamos fomos procurar os condutos alagados para tentar capturar o peixe troglóbio.
 Lucas pela primeira vez em uma caverna começou a se preocupar quando viu a gente entrar e sair de condutos e perguntou como é que eu sei voltar, e eu disse que não sabia. 
Seguindo uns 50 metros após a  entrada tem uma primeira bifurcação, ignoramos e continuamos seguindo em frente, na próxima ramificação entramos a esquerda, sentimos o cheiro forte do óleo diesel, (até o ano passado havia um motor que tirava água da caverna, mas felizmente o motor foi retirado), avistamos a água e não demorou muito para o famoso habitante do Gonçalo aparecer.
Um peixe completamente despigmentado e sem nenhum vestígio de olho, o tamanho é muito reduzido. Lucas disse que parecia um espermatozóide. Depois de passada a emoção de ver um animal assim tão raro, fomos preparar a armadilha para captura - lo e fotografa - lo, que afinal era o objetivo da expedição.
 Fizemos um covo, uma armadilha simples feita com garrafa pet,  colocamos biscoito esfarelado como isca. jogamos na água e fomos explorar outros condutos da caverna na expectativa de que quando retornássemos  o peixinho estaria dentro do covo.
Agora explorando os condutos da primeira bifurcação após a entrada, percebemos que o teto fica mais baixo, e mais úmidos, Gilmar aproveitou para dar inicio a sua grande empreitada como fotógrafo de cavernas.
Conduto: Luar no Sertão. Foto: Gilmar D'Oliveira



Esse conduto é alagado, demoramos quase uma hora , para Gilmar conseguir essa foto, porém valeu a pena.

Após esse conduto a caverna apresenta um padrão labiríntico, com muitas ramificações e os condutos ficam com muita lama o que dificultava a nossa exploração, era meio dia já fazia 2 horas que estávamos explorando então resolvemos voltar e verificar se o peixe troglóbio estava na armadilha.
Antes a curiosidade foi maior e rastejamos por um conduto lateral de dimensões sufocantes e encontramos dois fragmentos de ossos, não sabemos se são fósseis ou se foram transportado pela água de outros locais da caverna.
2 pequenos ossos, talvez costelas. encontrados em um conduto muito distante da entrada.
De volta ao conduto alagado onde deixamos a armadilha, a emoção tomou conta da equipe ao ver que conseguimos capturar o peixe. Fantástico, podíamos agora ver bem de perto essa maravilha da evolução. 
Os peixes da família Heptapteridae, são conhecidos como bagres, apresentam o corpo nu, sem escamas, tem barbilhões próximo a boca e as nadadeiras raiadas bem desenvolvidas. Dentro dessa família existe alguns que são troglóbios, isso é, vivem apenas em cavernas. e muitos desses apresentam a redução ou ausência na pigmentação e de olhos. 
O peixe encontrado na Toca do Gonçalo, era até recentemente pertencente ao gênero Taunya, por isso ainda coloquei o titulo da postagem como o espetacular Taunaya. Porém, segundo Trajano, a maior especialista em peixes troglóbios no Brasil, o nome do peixe agora passou para Rhamdiopsis, Gênero exclusivo dessa região do Brasil. Na Chapada Diamantina recentemente foi descrito um troglóbio do mesmo gênero.  Mas, o do Gonçalo apresenta bastante peculiaridades, como a sua miniaturização, hipertrofia do sistema da linha lateral, e uma forma diferente de despigmentação dos outros troglóbios. A formação da melanina que da pigmento ao corpo depende da enzima tirosinase, que transformar o aminoácido tirosina em um composto conhecido pela sigla DOPA, depois esse composto é polimerizado e da origem a melanina. Os outros peixes troglóbios mesmo do gênero Rhamdiopsis, não possuem a enzima tirosinase funcional, e experimentalmente quando adicionado o composto DOPA em suas células essas conseguem produzir o pigmento, mas o Taunaya de Campo Formoso é diferente, ele é DOPA negativo, isto é, mesmo adicionando o composto DOPA ele não produz pigmento, essa e outras características colocam ele como basal na filogenia desse grupo de peixes, e segundo estudos recentes as linhagens troglóbias do Rhamdiopsis de Campo Formoso, (antigo Taunaya sp), pode ser do período conhecido como Pleistoceno, o mesmo período que viviam Mamutes, Tigres dente de Sabres e toda aquela fauna da era do gelo. Fonte :http://carsologica.zrc-sazu.si/downloads/361/trajano19.pdf

Agora vamos as fotos do espetacular Taunaya, ou Rhamdiopsis da Toca do Gonçalo.
Bagre cego, do gênero Rhamdiopsis, da Toca do Gonçalo, completamente despigmentado e anoftálmico




Tamanho de 25 mm. Foto: Lucas Garboggini


Rhamdiopsis sp, antigo Taunaya sp um close mostrando seus barbilhões típicos dos peixes da ordem Siluriformes, suas nadadeiras características da família Heptapteridae, e seu troglomorfismo: totalmente transparente, o vermelho visto aí são dos órgãos internos do peixe, é a circulação sanguínea. e também sem vestígios de olhos.


Depois de fotografado o animal foi devidamente devolvido ao seu ambiente, cuja a população é extremamente reduzida.
Quem tiver olho treinado consegue identifica lo na foto acima depois de ganhar a liberdade.

Pra finalizar a expedição na volta pra casa passamos na nossa velha conhecida Toca da Tiquara vale o registro

Logo na entrada da Toca onde ficam as pinturas rupestres fizemos o registro desse Peropteryx macrotis, uma espécie de morcego insetivora.

Um espeleotema chamado cortina. Foto: Gilmar D' Oliveira
O clássico salão Chapéu de Duendes. Foto: Gilmar d´Oliveira

Salão das torres, Toca da Tiquara. 


Finalizamos a expedição contemplando o por do sol no sertão da Tiquara. Campo Formoso Bahia.

Até a próxima! 










2 comentários:

  1. Demais!!
    Ainda irei em muitas dessas expedições aventureiras, o que não falta é tempo e vontade.

    ResponderExcluir
  2. Seja bem Vindo ao clube ! Lucas Wanderson.

    ResponderExcluir