No dia 21 de abril a estudante de Psicologia Raiane Ramone realizou um estudo junto com alguns participantes da SEA. Seu objetivo era investigar sobre o que motiva as pessoas a praticar esportes em caverna (Caving). E também identificar possíveis contribuições da Gestalt-terapia nessa prática.
A Gestalt como psicoterapia integra e combina, de forma original, um conjunto de técnicas variadas, verbais e não-verbais, tais como: despertar sensorial, trabalho com energia, a respiração, o corpo ou a voz, expressão da emoção.
Raiane acompanhou na condição de observadora, um grupo com nove integrantes da SEA que tinham um objetivo superar obstáculos ao fazer uma travessia da Entrada até um dos locais mais distantes na Toca da Barriguda em Campo Formoso - BA.
Foto oficial da expedição abril/16. Edson, Jorginho, Agrícia, Altemar, Mateus, Raiane, Ronald, Gustavo, Artur e Ágata.
Para a coleta de dados a pesquisadora usou dois instrumentos: o uso da técnica de grupo focal que tem como objetivo identificar percepções, sentimentos e atitudes dos participantes e outro instrumento utilizado foram as entrevistas.
Através da entrevista, foram coletados dados das atividades realizadas, com perguntas abertas antes da atividade, durante e depois da mesma, privilegiando as emoções, sensações, limites, motivação e awareness, que são um dos fatores principais, já fundamentados, neste trabalho.
A awareness tem seu foco no processo que está acontecendo e sendo sentido no momento, do que no próprio conteúdo em si, trata-se de estar totalmente atento as sensações físicas, aos sentimentos e a tomada de consciência do indivíduo.
Técnica do grupo focal.
Como resultado do experimento. Foram observados os comportamentos, os fatores motivacionais que impulsionaram esses indivíduos a praticar o esporte, os riscos existentes dentro e fora da caverna, as sensações durante e depois da atividade, a emoção e a paixão dos praticantes pelo caving, bem com as percepções de cada membro acerca da experiência.
Foi observado como os principais fatores motivacionais: a curiosidade a sensação de autorealização e autoestima.
Como pode ser notado nas falas de alguns participantes:
A motivação, é você
conhecer novos lugares, novas cavernas, coisas diferentes que você nunca viu e
tentar encontrar algo que ninguém nunca encontrou no local, um abismo ou um
fóssil, ou um conduto, uma nova saída ou entrada. Isso é gratificante (sic).
(EXPLORADOR 1).
A motivação no meu
caso, são dois fatores: a busca pelo desconhecido saber que estou em locais que
poucas pessoas no mundo estiveram e também na primeira vez como sou uma pessoa
muito religiosa, eu senti muito a presença de Deus e para mim estar lá me
aproxima de Deus (sic). (EXPLORADOR 4).
A motivação é
curiosidade, instinto de vivenciar momentos de sobrevivência, momentos de me
testar, me colocar à prova (sic). (EXPLORADOR 5).
Motivação é conhecer
o desconhecido! É descobrir, é estar em um local onde poucas pessoas estiveram
e onde poucas pessoas também tem oportunidade de estar (sic). (EXPLORADOR 6).
Motivação é
descoberta do novo. Eu fico imaginando o que pode ter debaixo da gruta que a
gente não vê em cima, aquela vontade de conhecer algo daquelas estalactites e
estalagmites, fico com vontade de ver essas coisas (sic). (EXPLORADOR 7).
O praticante busca pelo risco para testar seus limites e auto superação, desligando-se do cotidiano, o ser humano vivencia nos esportes de aventura este contato com emoção e, consequentemente, também sensações intensas.
Essas situações de stress emocional e de contato intenso pode ser notado nas falas abaixo:
[...] eu não
considero um esporte de risco, existem riscos, mas eu não considero como risco,
quando é feito com cuidado, devidos cuidados, você evita riscos, mas risco
qualquer esporte tem hoje [...] (sic). (EXPLORADOR 1).
[...] confio muito na
equipe que faz esse trabalho, desde a primeira vez, a equipe sempre passou
muita segurança e isso também me faz ter uma confiança maior e não ver como
algo que coloca minha vida em risco (sic). (EXPLORADOR 2).
[...] dizer que não,
é mentira. Mas é um ambiente que é hostil, um ambiente que tem muita pedra solta,
abismo, então digamos que a todo momento sua vida ela está em risco, mas o
risco não se conta muito não, porque o prazer é maior (sic). (EXPLORADOR 4).
Relativamente sim,
porque eu acredito que todo esporte ele tem riscos, agora a prática do caving ele tem um risco mais especial do
que os demais, porque é uma prática que você lida com aspectos primários de
sobrevivência, você voltar às origens, a questão do homem antes da tecnologia,
antes de ter vários recursos, você ficar e se submeter às condições básicas de
sobrevivência, eu acho que esse risco é especial, diferenciado dos demais
(sic). (EXPLORADOR 5).
Momentos de contato intenso entre o corpo e o ambiente.
A contribuição da Gestalt através das dinâmicas de socialização junto a prática do esporte de aventura como é o caving pode proporcionar diversas sensações e emoções de forma particular em cada participante.
A gente cria um imaginário
da caverna e ai quando a gente chega é totalmente diferente, o clima lá dentro,
todas as sensações são muito particulares, muito diferenciadas [...], foi
realmente incrível descobrir o mundo das cavernas (sic). (EXPLORADOR 2).
O estado emocional é
a sensação de frustração, mas também de vitória, porque a gente superou chegar
até esse local, devido não termos uma pessoa assim, bastante experiente para
nos guiar no mapa e ao mesmo tempo, feliz porque nós vimos pessoas que fizeram
o suficiente para a gente estar aqui. Frustrado porque eu creio que a gente não
vá chegar no local desejado. O estado emocional e o corpo cansado devido
realmente ao desgaste. É muita subida, descida e psicológico, assim teve
momentos que a gente ficou um pouco abatidos, mas a gente controlou (sic).
(EXPLORADOR 3).
Na caverna temos uma
capacidade muito grande da gente se desligar de tudo que tem fora da caverna,
então eu precisava disso antes de voltar as aulas, era o tempo todo pensando em
problema e no voltar às aulas. E lá foi o momento que eu consegui me desligar
de tudo e só focar naquilo, uma sensação muito boa. A sensação era de segurança
porque estava a todo momento vendo o trabalho de equipe (sic). (EXPLORADOR 4).
O desejo e a motivação, pela busca das emoções que são vivenciadas na
relação do indivíduo com a natureza, assim também, pela busca por sensações e prazeres,
foi o que ocasionou, um grupo a procurar por esportes radicais na natureza
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo buscou relacionar os fatores motivacionais e a prática de caving, mesclando a possível contribuição da Gestalt-Terapia, tendo o caving como uma atividade esportiva, onde os praticantes contemplam e vislumbram a experimentação de emoções e sensações diversas na exploração da caverna. O psicólogo da GT nesse sentido, tem como um dos seus objetivos contribuir para o bem estar do sujeito, valorizar o corpo e suas sensações na busca constante pela satisfação das necessidades vitais do indivíduo, auxiliando-os a desenvolver seus próprios fins e limites.
Nas atividades terapêuticas foram desenvolvidas dinâmicas de socialização e exercícios que envolveram a prática corporal em contato direto com a natureza, buscando como intuito enfrentar o desconhecido e ter uma maior intimidade com a natureza, promovendo assim um bem-estar corporal integral, uma awareness. A awareness nesse caso foi estar em contato com a própria existência, foi tornar-se consciente do que estão fazendo com os eventos relacionados com o organismo/ambiente.
Em outras palavras é fazer com que o praticante seja autor do processo tomando consciência de cada passo durante a atividade e não apenas sendo um seguidor automático de um guia.
“Contato é a emoção
experienciada, é movimento à procura de mudança, é energia que transforma, é
vida acontecendo, é consciência dando sentido à realidade.”
Jorge Ponciano
Ribeiro (2007).
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