Voltemos a cerca de 450 anos... Uma “nova descoberta” ronda a Europa, as notícias de um território rico em diferenças climáticas e recursos naturais bastante diferentes daqueles do cotidiano, provavelmente, inquietava a população e a deixava sedenta por notícias daquelas terras. Existiam moradores? Como eram? E as especiarias? O clima? Vários questionamentos que eram sanados pelas notícias que cruzavam tempo e espaço em pequena velocidade. Essas notícias eram escritas por aqueles que saíram de sua inércia, motivados pelo conhecimento de um novo mundo... Um mundo em que nem todos tinham alcançado, talvez teriam sido os primeiros, talvez os últimos, mas o mistério e o novo encantavam alguns.
A História se repete... E no Século XXI ainda temos os sedentos por um mundo novo, motivados por mistério e aventura, e que não se contentam em guardar pra si mesmo os mundos novos que estiveram, dessa feita, não com as canetas de tinteiro dos cronistas que cruzavam oceanos, mas com um teclado e uma rede via satélite... Assim, começa mais uma crônica de um momento histórico para a Sociedade Espeleológica Azimute a expedição comemorativa de 2 anos de organização!
Foto comemorativa da expedição II anos. Poço Encantado - Itaête- BA. Da esquerda para a direita: Agrícia, Joana, Jorginho, Helen, Emerson, Altemar, André, Edemir e Ágata. Foto: Mateus Martins.
De 25 a 27 de Março de 2016, nos dirigimos para a região da Chapada Diamantina, a equipe formada por Agata, Agricia, Altemar, André, Edmir (mais tarde, Beta 24), Emerson (já batizado por Aspira), Hellen, Joana (mais tarde, Tapuia), Jorgean, Mateus, depois de algumas longas horas de viagem, não tanto quanto os portugueses, chegamos a nosso destino inicial a cachoeira do Ferro Doido e mais tarde na Chácara de Malone, um espaço impar, digno de ser desbravado... Das estantes às pedras, do balanço da rede ao umbu. Um museu de grandes velhas novidades nos provando que o tempo não para e está estampado em nossa cara.
Depois de nos alojarmos naquele espaço singular; brindarmos (ou não, pobre Jorginho) e conhecermos a figura eminente que é Admir Brunelli, vulgo Malone, com seu jeito irreverente, humilde e simpático, nos apelidou de tarados de cavernas, com razão! Às 21:00h saímos para gritar ao mundo “NOS NÃO VAMOS PAGAR NADA, É TUDO FREE”, depois de muito “ninguém se mexe, ninguém respira”, voltamos ao mundo de Malone para a chegada de mais um dia de expedição.
Um brinde aos 2 anos de SEA. Após o brinde Jorginho lamenta: " Já me deixaram no vácuo algumas vezes, mas essa foi a primeira vez que fiquei no vácuo em um brinde! ninguém bateu no meu copo" |
Após 5 minutos de uma conversa alucinada, Malone abre um mapa na sala de sua casa e nos instiga a buscar por uma lendária passagem secreta que une duas cavernas.
Em busca da passagem lendária. Primeira cavernada da expedição 2 anos. Foto; Mateus Martins.
Inicia-se mais um dia, esse de fato, o que mais me impressionou durante a expedição... Conhecer o quintal de alguém nunca tinha sido tão especial... O homem saiu das cavernas, os loucos voltaram e os ensandecidos ficaram. Não é todo dia que ouvimos de alguém “oi, tenho uma caverna no meu quintal”, isso já é motivo suficiente para se encantar, mas ouvir não é o mesmo que sentir. Seguimos o caminho da Cidade Perdida como nomeou Malone, e lá me senti absurdamente feliz em ter olhos. Ao chegar ao ponto final desse caminho, parecia-me que estava voltando no tempo passando de período por período até me encontrar no primórdio da humanidade, a imaginação gritava e o passado se revelava em simples vermelhidões expostas naqueles rochedos, era o mesmo que ver aquelas pinturas gritando “VOCÊ QUE TÊM IDEIAS TÃO MODERNAS É O MESMO HOMEM QUE VIVIA NAS CAVERNAS”.
Aula prática sobre paisagens cársticas com o Professor Admir Brunelli (Malone).
Trilha interpretativa Sitio do Malone.
Algumas dessas pinturas tiveram a calcita que as recobre datadas e se confirmada essas datações os resultados podem lançar uma nova luz sobre quando o homem chegou nas Américas.
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“Que me dizes dos séculos? Que histórias me trazes nesse índex de pedra?”
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Continuamos nosso espeleoturismo indo para a Gruta da Fumaça também com um aspecto histórico interessante, no passado as pessoas daquela região buscavam carvão dentro da gruta, ela fazia parte do cotidiano. Na verdade continua sendo, agora, de forma turística, além disso, possui um Salão com teto maravilhoso. Depois seguimos para a Fazenda Pratinha onde proporcionou um belo descanso, belas fotos românticas e uma bela queda... Mas isso não tirou o brilho de estar no local.
Entrada da Gruta da Fumacinha.
Fim de tarde nas águas da Pratinha.
Já cansados, voltamos para a o museu de Malone a fim de comemorarmos o biênio do SEA com os dotes culinários de Palmeirinha (Altemar) e Ana Maria Braga (Aspira), cozinhando o prato principal que obviamente no interior do mato não poderia ser outra coisa, senão cuscuz. Entretanto, nosso lindo museu não tinha um cuscuzeiro, nada que não pudesse ser resolvido “simplesmente”.
A etapa da ancoragem do espeleocuscuz.
Depois de resolver o problema de teimosinhos que surgiram. Ao som de grilos e dos lindos da Tropicália e ventilação natural debaixo da “luz das estrelas laço pro infinito”, um bom papo com gosto de sono e cheiro de café finalizou a noite.
No dia seguinte, iniciamos nosso último dia de comemoração seguindo para o Poço Encantado... E que encanto!! Mais uma vez os dois fãs, o par do corpo humano, apenas contemplavam a imagem a sua frente... O azul vibrante enterrado naquela ‘rochidão’ escura!
Lago do Poço Encantado. Foto: Mateus Martins.
Um bloco diagrama e algumas medidas do Poço Encantado: O lago tem uma área de 3.670 metros quadrados, uma profundidade aproximada de 70 metros. Do nível da água ao teto uma altura estimada é de 50m. E o volume total do salão é aproximadamente 320 mil metros cúbicos, uma dos maiores em volume do Brasil.
Naquela tarde de um domingo azul, depois dos presentes para a família; discussões (produtivas) a mesa do almoço; ao som de Legião Urbana com um gostinho de nostalgia para alguns; brincadeiras ao rádio; e aperto no coração do quase afogamento dos filhotes de André e Altemar; seguimos para o último local do roteiro, o Poço Azul, onde fizemos mergulho, os olhos e todo o corpo foram incorporados por aquela água que não só banhava como também fazia refletir... A vontade era ficar ali até que alguém fosse retirar.
Saindo do Poço Encantado para o Poço Azul o caminho mais curto é fazer a travessia do rio Paraguaçu. Coração na mão para fazer as travessias dos carros diretamente pelo rio.
Na entrada do Poço Azul. Comemorando 2 anos de fundação da Sociedade Espeleológica Azimute.
O banho no Poço Azul nos leva a uma sensação extraordinária de está flutuando em um espaço azul.
Finalizando esse lindo passeio e a comemoração daqueles lindos dias, o horizonte anunciou o seu vitral e finalizou-os com a bela imagem de um Pôr do Sol da Chapada. Estávamos indo de volta para casa!
Construir mais esse momento histórico da SEA, me fez perceber como nós, enquanto espécie, temos a capacidade de interferir nesses espaços naturais mesmo sendo suprimidos por sua beleza. Além de refletir na prática o que traz no filme Into The Wild, a felicidade só é verdadeira quando é compartilhada e que existem momentos, locais e pessoas que só em conhecer e contemplar já se torna prazeroso existir.
E mais uma vez termino uma crônica parafraseando Adélia Prado, o que a memória ama fica eterno, amei aquele momento com a memória imperecível.
Into the Wild é um desses filmes que mechem com o psicológico das pessoas, não existe qualquer pessoa que assista esse filme sem 1: tirar ao menos uma grande lição para sua vida e 2: ficar com uma vontade imensa de colocar uma mochila nas costas e se aventurar.
Ao amigo Malone queremos dizer que: São pessoas assim como você que nos faz perceber a beleza da natureza sem os supérfluos e luxos das cidades modernas, e descobrir que só é possível ser feliz compartilhando o que sabemos e o modo como vivemos;
Em nome da Sociedade Espeleológica Azimute (SEA) Nossos mais sinceros agradecimentos.
Joana Clara Santiago " Tapuia"
Nos vemos na estrada ou embaixo delas.
Muito bom, parabéns Joana!
ResponderExcluirhistoria muito bem contada, parabéns pelo site e pelo trabalho~
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