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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Expedição Kupi II: O Show tem que continuar! - A Lanternas dos afogados

Expedição Kupi II : O Show tem que continuar

A  Lanternas dos afogados

Palavras chave: lanterna, frio, chata.

      Na minha primeira expedição já ouvi histórias de cavernas com água, onde seria preciso nadar e passar por muita lama. André indicou que assistíssemos ao filme O Santuário, filme muito bom e que indico para quem quer se aventurar debaixo da terra. Criada toda a expectativa em  seis de Agosto, quando fiz a minha primeira expedição, chegou dia 11 de dezembro e para coroar a última expedição do ano, uma expedição com “muita água”. A SEA tentava pela 4ª vez percorrer de ponta a ponta a Lapa do Convento em toda sua extensão, aproximadamente 10 km.

Nossa aventura já começa ao sairmos de Campo Formoso, onde deixamos os nossos carros e embarcamos numa van, onde tínhamos como motorista Juliano, o carteiro do macacão (futuramente explicaremos esse apelido). Chegamos em Casas Velhas, e fomos até a casa do Sr. Toinho, a fim de descobrir como chegaríamos à entrada do Buracão, entrada em que apenas André tinha ido há quatro anos e não lembrava como chegar. Entramos na van com o Sr. Toinho até o ponto em que a van não conseguia mais avançar, e ele foi nos explicando as referências no percurso:
                “Segue na trilha, até chegar a um lajedo, passar reto pelo lajedo e encontrarão uma árvore                     com um poste encostado, e depois encontraram mais dois postes na trilha, logo após o                          terceiro poste terão que dobrar a esquerda e já estarão na entrada.”

Era 11:30 e com boas referências e caminho simples, em menos de 30 minutos estaríamos na entrada do Convento, certo? Errado. Nossa primeira dificuldade se encontrou ainda fora da caverna, no meio da caatinga. Chegamos até o lajedo tranquilamente, porém perdemos a noção de referência e fizemos curva no lajedo, porém estávamos convictos que era o caminho certo. Dessa vez tínhamos um “GPS”, e seguros que não nos perderíamos, já que havíamos marcados o ponto inicial. Uma parte do pessoal ficou sentada embaixo de uma árvore, enquanto André, Zero Um, Manoel e eu procurávamos a entrada. Passamos uma 01h30minhr rodando na caatinga sem nenhum êxito, apenas encontramos uma abertura para a caverna e tomamos como referência, uma referência que não foi de muita serventia. Decididos voltar, acabamos percebendo que estávamos perdidos e que tínhamos um GPS, mas não sabíamos usá-lo. Então foi perguntado a Manoel se ele sabia onde estávamos a resposta que tivemos foi essa:  “Sei sim, estamos no buraco que tomamos como referência”. Acontece que andamos em círculos e na verdade voltamos a lajedo.

Fomos ao encontro do restante do grupo e conversamos um pouco, e decidi com André tentar a última investida para um lado em que tinha pressentimento que era o certo. E começamos a seguir para esse lado, a caatinga se fechou e era inevitável não acabar esbarrando em “favelas” (planta que coça muito se encostar-se à pele, mas é muito mesmo), percebemos que o terreno era bem irregular, ora tinha uma baixada ora tinha subida, começamos a ficar confiantes de que era o lado certo, até que depois de mais 20 minutos andando e cortando “mato com o peito”, encontramos a entrada o que ocasionou uma mistura de sentimentos, euforia e felicidade misturada com alívio, já que caso não encontrássemos a entrada do Buracão, teríamos que fazer todo o caminho de volta até a casa do Sr. Toinho e tentar entrar pela entrada mais conhecida do Mandacaru, o que seria um problema, pois já era 13h30min. Voltamos e avisamos ao grupo de que havíamos encontrado a entrada, ao chegar à entrada, paramos para comer e descansar um pouco, para aí sim começarmos nossa expedição pelo Convento.
Entrada do Buracão - Lapa do Convento. Atrás: Rafaela, ZeroUm, Taís, André, Altemar. Na Frente: Juliano, Mamá e Géssica, Thiago e Yanka.

Logo na entrada já tinha um cartão de visitas e apresentação do que iríamos passar, com bastante travessia dentro d’água, nas paredes conseguíamos ver os níveis em que a água já havia chegado em chuvas passadas, a caverna estava com “pouca água”. Começamos nossa expedição pelo Convento e como era a primeira vez de algumas pessoas em caverna com água o medo do que não se conhece apareceu um pouco em algumas frases: “Será que tem bicho na água?”, “Tem um bicho aqui”, “É fundo demais?”.

Primeiro contato com a água
A expedição estava tranqüila, até que chegamos na primeira travessia que precisaríamos nadar. Surge a figura de Juliano, que tira de dentro da bolsa uma bóia de criança, junto com um saco de plástico grosso, coloca a mochila dentro do saco de plástico e emiti a seguinte frase: “Isso aqui que é uma bolsa estanque”. Passada a descontração com a bolsa estanque de Juliano, eis que surgiu o primeiro problema, o medo de encostar o rosto na água por causa da histoplamose, Gessica não sabia nadar e Yanka tinha pavor a água escura, era uma travessia curta, Gessica estava com colete e conseguiu passar tranquila, Yanka também passou tranquila. A surpresa veio quando Mamá foi passar, ela pediu a bóia da filha de Juliano, para colocar a bolsa em cima, pois estava receosa de passar com a bolsa nas costas, acontece que a ideia não deu muito certo, ao tentar passar a bolsa caiu da boia e ela levou um caldo tentando manter a bolsa na boia, deu uma golada na água e depois conseguiu passar. Após essa travessia, andamos mais um pouco e decidimos parar para descansar e nos alimentar perto de uma abertura na caverna, mas ainda faltava muito para chegarmos ao nosso destino, então não demoramos muito e voltamos a andar.  

Primeira parada para descanso
Tomamos o nosso rumo e fomos intercalando caminhadas com travessia com água que chegavam a atingir até a altura do peito, até que chegamos a uma travessia em que precisaríamos nadar mais uma vez, só que dessa vez já era uma travessia maior, André tentou ir por cima das pedras, mas estava muito escorregadio, e decidimos esticar a corda novamente e todos passarem pela corda, acontece que a corda não dava para atravessar toda a extensão da água, então procuramos até um lugar que dava pé e esse seria o ponto em que seria preciso nadar um pouco sem auxílio da corda. As meninas ficaram receosas e deixaram suas bolsas para que eu e Zeroum levássemos, eu nadei com 2 bolsas e Zeroum com 2 bolsas. E essa foi considerada uma travessia “tranquila”.
Lapa do Convento
Continuamos seguindo nesse ponto ninguém mais queria nadar, e pensamos que não precisaríamos mais, até que surge o nosso maior desafio, um lago que deveria ter entre uns 30 a 40 metros de comprimento. Só tínhamos uma corda de 20 metros, e não tinha nenhum ponto de apoio no meio do lago. Então se ter muito o que fazer, começamos a travessia todos começaram a nadar, e nesse momento passamos mais um susto, Manoel estava usando uma máscara com filtro e ao tentar nadar com ela, em algum momento, a água travou a passagem de ar, o que fez entrar em um pequeno do desespero e quase de afogar, na luta para se manter vivo e não se desesperar mais, ele acabou perdendo sua lanterna que caiu no “fundo do poço”, mas conseguiu se recuperar e fazer a travessia. 
Visto isso vi poderíamos passar pela parede, fazendo um Boulder (modalidade de escalada) por dentro da água e diminuir esse risco, foi aí que chamei Yanka e fomos usando essa estratégia. Yanka estava com muito frio e surgiu a preocupação de ir mais rápido para que ela não tivesse hipotermia, para dificultar ainda mais a nossa travessia, apareceu uma caranguejeira morta perto de nós, Yanka se desesperou um pouco, mas conseguimos progredir. Outra que passou um sufoco nadando nessa travessia foi Thaís que cansou e ao tentar virar de costas para descansar e nadar de costas passou um susto, mas foi auxiliada por Rafinha que estava nadando ao seu lado. Ao fim da travessia, Yanka apresentava sinais de hiportemia, lábios roxos e muito frio, tiramos a sua roupa molhada e a esquentamos, ela vestiu uma camisa térmica e ficou melhor.

Passado o susto, descansamos um pouco e nos alimentamos. Porém, ao abrir um pote “estanque”, Altemar verificou que tinha entrada água no pote, e molhado toda a sua comida, esse não foi o maior problema, o problema era que o celular de Mamá também estava no pote, resumo, queimou o celular. Acabamos nomeando essa travessia de “Lago dos Afogados”. E continuamos seguindo a fim de concluir nossa expedição, andamos e andamos até que chegamos em uma abertura, a do Mandacaru e então depois de conversar um pouco percebemos que pegamos o caminho errado, então foi feita uma votação se voltaríamos e procuraríamos onde erramos ou sairíamos da caverna e mais uma vez não conseguiríamos concluir a travessia do Convento. Estávamos cansados e na votação ficou meio a meio, só que ao perguntar a Géssica qual era seu voto, de imediato ela respondeu “voto por sair logo, essa caverna é chata”, todos rimos e a sensação de estresse passou um pouco, porém Géssica foi voto vencido e voltamos para dentro da caverna para encontrar onde tínhamos errado. Andamos, andamos e andamos e percebemos que o caminho certo era antes do lago em que Manoel quase se afogou, foi uma travessia muito complicada para muita gente do grupo e ali acabava nossa esperança em concluir dessa vez a travessia do Convento. Voltamos para a saída do Mandacaru, tristes por não conseguir concluir a meta.

Fizemos uma breve escalada para sair, já passava das 20hrs e ao sair estávamos mais tranquilos, pois o caminho de volta era conhecido e a cerca que nos dava referência ficava próxima a saída, certo? Errado mais uma vez. Subimos pelo lado errado, e passamos um bom tempo procurando pela cerca que estava do outro lado da saída, foi então que nos demos conta e fomos procurar do lado certo. Passamos um bom tempo procurando a cerca para irmos embora, conseguimos chegar na casa do Sr. Toinho perto das 22horas, o cansaço era evidente em todo mundo e assim nos despedimos mais uma vez do Convento, com uma sensação de que dá próxima vez essa travessia será concluída.
Casa do Sr. Toinho na volta para casa

Até a próxima.


Thiago Mattos!

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