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sábado, 30 de outubro de 2021

TOCA DO NONATO: Uma cavernada aleatória.

 

Enquanto desempoeirava capacetes e lanternas me dei conta que precisava limpar a pior espécie de poeira que vem se acumulando em tempos de pandemia, aquela que pano úmido nenhum pode afastar:  A das histórias não contadas! Afinal de nada vale os dias especiais se não forem compartilhados.

Esse é o relato de uma expedição que aconteceu em abril de 2019, e que rendeu belas fotografias ( o que por si só, já justifica a postagem).


Registro de Erickson Batista na Toca do Nonato. 04/19




 Escrevendo agora em 2021 posso ser traído pela memória em alguns detalhes.  O que lembro com razoável certeza é que essa expedição não estava no nosso calendário oficial de expedições. O que aconteceu foi que próximo a semana da expedição mensal, Ney enviou no grupo de whats app uma foto e um áudio de algumas pessoas entrando em uma caverna que diziam ser inexplorada. As fotos mostravam um bom potencial e a caverna era na cidade de Cafarnaum na Bahia, essa cidade é próxima a Iraquara que é amplamente conhecida pela quantidade de cavernas e dolinas! Valeria a pena mudar o planejamento e ir conferir. 

O Ney que foi o cara que deu a ideia, nos avisou que não poderia viajar conosco naquele final de semana mas, deu a dica de um contato que encontraríamos na cidade Morro do Chapéu, o tal contato conhecia a caverna e poderia nos levar lá. E assim, pegamos a estrada saindo de Sr.do Bonfim:  Alexandre, Thiago Mattos e eu. Paramos em Várzea Nova para encontrarmos nosso principal fotografo o Erickson Batista.

Equipe completa, chegamos no Morro do Chapéu um pouco depois de meio dia, encontramos o contato que o Ney tinha informado e ficamos sabendo que ele não poderia ir conosco. O que ele poderia fazer era dar umas dicas de como chegar no povoado em que fica a caverna, e o contato do seu Nonato que poderia nos ajudar. 
Antes de nos desejar boa viagem nosso anfitrião do Morro ainda nos mostrou uns vídeos que fez na caverna o que nos deu um ânimo maior para a chegar logo e cavernar antes de anoitecer.
Chegamos ao povoado, e encontramos Seu Nonato!  Um senhor muito simpático, que nos contou vários causos e se prontificou a mostrar a entrada da caverna e autorizou que acampássemos no seu quintal, pós cavernada.

Tudo arrumado chegou a hora de cavernar. De acordo com seu Nonato a caverna fica pouco mais de 300m a frente de sua propriedade, mas, precisaríamos passar pela propriedade de terceiros e, portanto, seria necessário uma ou outra conversa antes de chegar no afloramento. Feito isso, já era quase 16h quando chegamos ao ponto onde estaria a caverna. Seu Nonato teve um pouco de dificuldade de encontrar o local exato da entrada e assim que encontrou nos informou que não poderia entrar conosco devido o adiantar da hora.  Perguntei qual que era o nome da caverna e ele respondeu que não tinha nome, era só "Toca". Normalmente, quando isso ocorre, costuma-se batizar a caverna com o nome da fazenda onde está entrada. Mas, pela simpatia, pelos causos e hospitalidade de seu Nonato, resolvemos que seria justo cadastrar a cavidade com o seu nome.

A caverna tem uma entrada pequena seguida por um conduto estreito com forte cheiro de guano e de animais em decomposição. Passando esse conduto abre um pequeno salão terminando em um teto baixo logo a frente. Será que já acaba aqui? Mas tá diferente do que nos mostraram nos vídeos. "Deve ter alguma outra passagem que passou desapercebido". 

Não demorou para encontrarmos uma passagem lateral mas, que para nossa infelicidade  terminava em um salão obstruído por blocos; Não é possível que viemos de tão longe pra ver tão pouco!



O salão obstruído e a cara de decepção da equipe. Foto: Erickson Batista.


Já estávamos de saída da caverna, mas naquele ritmo sem pressa e sem preocupações! Uma parada para beber uma água e fazer um lanche. Aquele bom bate papo, despreocupado e antes que a maioria terminasse seu lanche eu indaguei: “ Desde quando deixamos um teto baixo para trás? 

- " Vamos rastejar aqui. Obtive a seguinte resposta de Thiago:

- “Vai na frente. Se prosseguir, a gente te segue”. 

- Ok!

Rastejei e percebi que continuava. Avisei a turma! Aquela altura ainda não conseguia saber se prosseguia um pouco mais ou se iríamos nos deparar novamente com um salão obstruído, mas, pelo menos era teto alto; Usando aquela estratégia psicológica de dividir as preocupações por etapas, insisti para que todos fizessem o rastejo e em seguida, pedi para que Erickson fizesse um registro para nossos arquivos, então depois iriamos conferir o final do conduto.  

O conduto pós rastejo.

A medida que progredíamos a caverna nos surpreendeu com condutos e salões completamente diferentes do que tínhamos antes do rastejo, dentre as mudanças destaca-se a drástica mudança progressiva da umidade, culminando em condutos com água e lama. 


Um dos sinais da mudança de umidade foi esse raro registro de uma Gminophiona em caverna. Esse é um anfíbio conhecido como "cobra-cega" e encontrado apenas em ambientes úmidos.



 Nesse ponto a caverna alterna curiosos condutos de meia altura com morfologia retangular e  grandes salões de teto alto.  SIMPLESMENTE NÃO TEM LIMITE A IMAGINAÇÃO DA ÁGUA QUE ESCULPE CAVERNA!



Um dos belos salões encontrados. O desafio aqui é encontrar onde estão todos os 4 integrantes da expedição. Alguns estão bem camuflados. 

 

Encontramos duas ramificações laterais antes de chegar ao final da caverna. Exploramos uma das ramificações para perceber que ela dá uma volta e se conecta ao conduto principal de onde partimos.   A exploração dessa ramificação rendeu um causo. 

Enquanto estávamos no salão principal, pousando para fotos, foi o Alexandre quem primeiro entrou na ramificação avisando que iria ver até onde ela prosseguia. Depois de uns 10min, resolvemos seguir os passos de Alexandre pela ramificação lateral. E aqui era literalmente seguir os passos. Uma vez que, nesse local o piso estava forrado com uma lama viscosa e a nossa bota inevitavelmente afundava. Avançamos seguindo os rastros deixado por Alexandre até que os rastros desapareceram do nada!!!!

O conduto fechava a nossa frente, não tinha lugar algum para Alexandre está escondido tentando nos pregar alguma peça ou algo do tipo e ficamos sem ter explicação para o seu desaparecimento.

Após alguns minutos gritando o  nome de Alexandre sem nenhum retorno, finalmente ouvimos um barulho vindo de longe.


A explicação: Próximo ao local onde o conduto fecha tem um nível superior que não tínhamos enxergado, aqui o sedimento é mais fino e seco, Alexandre subiu sem deixar marcas, esse novo local desemboca em grandes salões e depois volta para os condutos com lama de onde partimos. 

Saímos da caverna por volta de 20h e ficamos com uma boa sensação de dever cumprido. No dia seguinte voltando para casa, ainda tivemos a oportunidade de contemplar o sítio da Cachoeira do Ferro Doido, um conhecido ponto turístico da cidade de Morro do Chapéu.

 

Da Esquerda para direita:Erickson Batista; André Vieira; Thiago Mattos e Alexandre Santos.


Chegando em casa, mostrando as fotos e contando os relatos para Ney, e a seu contato no Morro do Chapéu descobrimos que exploramos a caverna “errada” ou os condutos errados da caverna certa? Segundo eles (e os registros fotográficos confirmam) não fomos nos locais onde eles foram.  Questão que só poderá ser respondida no nosso retorno a Cafarnaum e revisitar a  misteriosa Toca do Nonato.

PARA QUE SERVE UMA CAVERNADA? SIMPLESMENTE PARA VOLTAR AO PONTO DE PARTIDA!

 


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