Páginas

quinta-feira, 19 de março de 2015

A influencia da geomorfologia e dos impactos humanos na distribuição da fauna presente nas cavernas: Toca do Angico e Toca da Tiquara no município de Campo Formoso - Bahia. Brasil.




Essa postagem é a tradução do artigo apresentado na revista Ambient Science publicado pela National Cave Research and Protection Organization India. o artigo original em inglês pode ser acessado no seguinte link: link do artigo

Os estudos feitos para caracterizar a fauna de uma caverna tem relevância uma vez, que podem ser utilizados para delinear ações de conservação. 
A nova legislação brasileira para proteção das cavernas é considerada um retrocesso pela comunidade espeleológica nacional. A criação do decreto Federal nº 6.640/2008, troca a proteção integral das cavidades naturais pela possibilidade de destruição de cavernas que não se enquadrem em determinados critérios. E um desses critérios de relevância é a sua biodiversidade ou importância ecológica. 
Nesse estudo foram feitas observações sobre a distribuição da fauna em duas cavernas com diferentes status de conservação no município de Campo Formoso - Bahia. As cavernas estudadas foram: A Toca da Tiquara (10º 627’03’’S e 40º 632’15’’W); e a Toca do Angico (40º 29 989’S” 10°2379” W).



Área de estudo


A Toca da Tiquara tem sua entrada localizada no fundo de uma dolina (depressão no terreno) é uma caverna com 1010 metros de comprimento e compreende três condutos principais predominantemente secos. A água está presente em pequenas poças na porção final de um dos condutos. Essa caverna sofreu durante muito tempo a exploração de salitre e é, portanto bastante alterada pela ação do homem. Entre outros podemos observar como impactos a presença de lixo, a pichação nas paredes e a supressão da vegetação nativa no entorno da caverna.


Mapa da Toca da Tiquara dividido em setores onde foram feitas as coletas e observações sobre a fauna.


Entrada da Toca da Tiquara
A Toca do Angico é uma caverna calcária situada na formação geológica do grupo Una. Está localizada em uma fazenda a 26 km da sede do município. Junto ao afloramento de rocha calcária há um fragmento de vegetação seca típica de regiões cársticas a caverna apresenta mais de uma entrada com alguns blocos abatidos e desprendidos do teto. A maior parte das galerias possui um teto alto e em alguns pontos apresentam abismos ou claraboias que permitem a entrada de luz de forma direta. A caverna é pouco visitada, e encontra se em melhor estado de preservação que a Toca da Tiquara.
Uma das entradas da Toca do Angico

Mapa da Toca do Angico dividido em setores onde foram feitas as coletas e as observações sobre a fauna.

Resultados 

Os resultados encontrados apontaram que a fauna das cavernas estudadas não é muito diferente do que é encontrado em outras cavernas no Brasil. Os mais frequentes são os insetos e os aracnídeos; entre os insetos o mais abundante é o grilo do gênero Endecous, e entre os aracnídeos o mais frequente é aranha marrom do gênero Loxoceles. Os destaques ficam por conta dos troglóbios encontrados na Toca da Tiquara. Foram três: A traça do gênero Coletinia; O crustáceo do gênero Spelaegammarus e o besouro do gênero Coarazuphium.

Aranha marrom do gênero Loxoceles, encontrada em abundancia em ambas as cavernas estudadas.
Crustáceo Troglóbio do Gênero Spelaegammarus. Um dos tres troglóbios encontrados na Toca da Tiquara.

Em relação a distribuição percebeu se que a maior diversidade de espécies encontradas na Toca da Tiquara foram na zona de entrada, isto é comum porque a zona de entrada funciona como uma zona de transição entre o meio externo e interno e possui condições que permitem organismos que vivem no exterior ocupar essa zona. 

No Angico, foi diferente, a maior diversidade foi registrada no setor intermediário da caverna, a explicação é que esse setor apresenta aberturas no teto chamadas claraboias que permite a entrada de recurso alimentar, o que é um fator determinante na distribuição de organismos dentro da caverna. Na região alagada do Angico não encontramos nenhum organismo.

Uma vez que as observações foram feitas ao longo de 5 anos entre 2008 e 2013 foi possível fazer considerações sobre o tamanho populacional das espécies mais abundantes e concluímos que aparentemente não há muita variação entre elas exceto no caso dos crustáceos aquáticos Spelaeogammarus que foi observada mudança na quantidade de indivíduos entre as diferentes estações do ano, o que pode indicar fenômeno relacionado a explosão reprodutiva.

No que diz respeito aos impactos humanos, a Toca da Tiquara apresenta se bastante impactada com a presença de lixo, inclusive nas áreas onde se encontram os troglóbios, o que merece especial atenção para um programa de educação ambiental na comunidade bem como um dispositivo legal para proteger a caverna tão importante histórica e biologicamente.


Fuligem e pichações são um dos muitos impactos causados na Toca da Tiquara devido a falta de proteção e a visitação indiscriminada durante as últimas décadas

A conclusão do trabalho coloca em xeque a fragilidade dos organismos troglóbios, e levanta questionamentos sobre o que influencia na distribuição desses organismos, uma vez que duas cavernas próximas,uma com bom estado de conservação e com muito recurso alimentar não possui nenhum troglóbio enquanto que outra que sofreu impactos durante muito tempo, possui alguns dos mais espetaculares troglóbios.
E mostra urgência em traçar planos com o objetivo de conservar essas cavidades naturais que estão ameaçadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário