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domingo, 16 de setembro de 2018

Expedição Curaçá: O Lado B da Prospecção.





Prospecção do latim prospectione que significa procurar, pesquisar; é um termo da geologia que é usado para descrever os métodos utilizados para descobrir jazidas de uma região. Na espeleologia fazemos prospecção para descobrir cavernas. O lado bom da prospecção é o prazer da descoberta que acompanha nosso espirito aventureiro desde os tempos imemoriais. Mas, nem tudo são flores nos dias de prospecção!



Quais são as três situações indesejadas em uma prospecção de cavernas?

I - Chegar ao afloramento e não encontrar a entrada da caverna.

II - Encontrar uma entrada na caverna e não conseguir entrar.

III - Entrar na caverna e perceber que ela não desenvolve.

Passamos por um pouquinho de cada uma dessas situações na expedição de setembro que relatarei a seguir.


A prospecção começa na biblioteca. 
Encontramos a dica no livro lançado pelo ICMBIO: PAN para a conservação do patrimônio espeleológico nas áreas cársticas da bacia do rio São Francisco. De acordo com esse livro, a bacia do São Francisco é dividida em 3 áreas cársticas prioritárias para ações de conservação.  E a área que compreende parte dos estados de Sergipe, Alagoas , Pernambuco e Bahia (ver mapa abaixo) é considerada como lacuna de conhecimento espeleológico, em razão do alto potencial e do baixo numero e cavernas registradas.

Mapa das áreas cársticas retiradas do livro do ICMBIO: PAN para conservação do patrimônio espeleológico da Bacia do São Francisco.





Como pode ser observada no mapa as regiões cársticas do Supergrupo Canudos (sub-bacias de Curaçá e Macururé possui apenas 4 cavidades registradas), e adjacente a essas sub-bacias está os carbonatos do Grupo Una e Formação Caatinga sub-bacia Curaçá com simplesmente nenhuma caverna registrada (Lembrando que cavernas icônicas como: Toca da Boa Vista, Gruta dos Brejões, Toca dos Ossos e Gruta do Convento se desenvolvem em rochas dessas Formações).




Pois bem, com nosso destino já definido partimos de Petrolina com destino a Curaçá no dia 8 de Setembro de 2018. Nessa ocasião batemos o record negativo de realizar a expedição com menor número de participantes em toda a história da SEA. Apenas 3! Eu, Thiago e Ariavania (que se deslocou quase 500 Km de Alagoinhas na Bahia até Petrolina em Pernambuco afim de participar de uma expedição SEA).





Foto Oficial da Expedição: André, Ari e Thiago. Na entrada da Gruta do Patamuté. 08/09/2018.


Decidimos começar a expedição com a certeza de visitar uma caverna! Seguimos para a Gruta do Patamuté que está situada a 18 km do povoado de Patamuté e que desde o inicio do século XX é utilizada pela comunidade regional para realizações de cerimônias religiosas. A caverna é bastante antropizada e já foi topografada pelo Grupo Sul Baiano de Espeleologia (GSBE) em 1999. Apesar disso, havia uma dúvida que eu precisava confirmar em Patamuté. 



Planta baixa e perfil topográfico realizado pelo GSBE liderados pelo amigo Elvis Barbosa. Aproveitamos a oportunidade e atualizamos algumas medidas com a trena laser. Já que em 1999 a topografia foi feita com trena de fita.

Logo nas proximidades da entrada da caverna encontramos esse belo exemplar de Estromatólito. Estromatólitos são registros das primeiras atividades biológicas remontam a era Proterozoica e indicam a presença de uma mar raso e quente a cerca de 700 milhões de anos atrás.


No único salão da Gruta do Patamuté, podemos observar colunas que chegam a 30 metros diâmetro ( Centro da foto); Um pequeno altar (fundo) e as unidades estratigráficas bem delimitadas na parede. 


Detalhe das unidades estratigráficas. Metacalcários do Grupo Vaza-Barris.



A dúvida que precisava tirar em Patamuté é da área da bioespeleologia. Diz respeito, a um crustáceo exclusivo do ambiente subterrâneo conhecido pela ciência como Anfípode e tem o nome comum de “pitu”. O artigo que descreve o gênero de anfípode diz que a espécie referencia foi encontrada na gruta do Patamuté. E eu tinha o interesse particular de encontrar esse crustáceo. 

Apesar da estrada com trechos acidentados e da sinalização confusa, chegamos com relativa facilidade na Gruta do Patamuté. Lá, ficamos encantados com a beleza cênica do único e volumoso salão que compõe a Gruta.  
Também encontramos alguns fiéis que tinham se deslocado de Juazeiro para fazer suas preces.  Um dos fiéis nos contou que visita a gruta desde a década de 50. E relatou que "há muito tempo atrás a caverna tinha uma “aguada”, mas que devido a uma maldição a água da caverna secou"... Isso teria acontecido antes da década de 50! Sem água, sem chance de encontrar o crustáceo. 
Mas, nossa esperança foi alimentada com a informação que atrás da mesma serra onde está a Gruta do Patamuté, existe a Gruta Olhos d´água e essa teria água. Talvez tenha sido dessa gruta que foi coletado o “pitu”. Vamos pra lá!


Precisávamos encontrar alguém pra nos levar a Gruta dos Olhos d água, já que essa não recebia visitante e, portanto não há estradas para lá. Voltamos para o Povoado de Patamuté a fim de almoçar e encontrar algum guia local.  Encontramos seu Carlinhos que tinha um repetitivo bordão “ Essa Serra é cheia de segredos”.



Como prometido por Carlinhos o carro chegava bem próximo a Gruta dos Olhos d’água. Ficamos bem animados ao ver o maciço calcário. A entrada larga e quase vertical da caverna fez nossa mente viajar sobre a possibilidade de encontrar fósseis da megafauna no seu interior. E quando caminhávamos serenamente para nossa primeira cavernada do dia, eu chamei a atenção de Thiago e Ari para uma enorme colmeia de abelha bem no trecho que permite a decida na caverna. Era inviável descer ou subir aquele abismo sem atiçar as abelhas e tomar alguma ferroada, não demoramos a decidir que deixaremos para outra oportunidade descobrir o que esconde essa caverna protegida pelas guardiãs melíferas.


Entrada da Toca d'água. Infelizmente foi o mais próximo que conseguimos chegar sem ser atacados pelas abelhas. 

Já eram duas da tarde e decidimos ir tentar a sorte na Serra da Borracha. Demoramos pouco mais de uma hora e meia pra chegar ao afloramento da Serra da Borracha, e a medida que encontrávamos os vilarejos todos confirmavam que existia sim grutas por ali, o que nos deixava empolgados. Ao chegar bem próximo ao afloramento percebemos que ali tinha uma mineradora de mármore. Uma pedreira como chamam os locais. E talvez por isso, não conseguimos convencer nenhum dos locais a nos levar nas entradas das cavernas que pelas informações coletadas são várias. 
Os moradores ficaram temerosos e aparentemente acreditavam que de alguma forma nós poderíamos atrapalhar a forma como eles trabalham na pedreira. 
 Na próxima vez, teremos que ir com antecedência  conversar com os moradores explicar que nossas intenções são apenas de passar horas no interior da terra conhecendo e se maravilhando. E que não temo interesse na pedreira de mármore. 

Paredão calcário da Serra da Borracha. Alguns acreditam que ainda é possível encontrar nesses paredões a extinta Ararinha Azul (Cyanopsitta spixi)

 Para finalizar nosso lado B da prospecção encontramos no caminho de volta para Petrolina, um senhor lutando para trocar um pneu do seu carro a beira da estrada. Paramos para ajudar e colhemos informações sobre duas localidades com cavernas promissoras nesse carste.  
Avistamos outro carro quebrado na pista, será um sinal? 
Meia hora depois era o nosso carro que estava quebrado e finalizamos a noite comendo uma pizza na oficina esperando o conserto do carro.



Final de expedição de Prospecção com o carro enguiçado. 


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