A cidade de Nova Redenção ganhou notoriedade com o atrativo turístico do Poço Azul do Milu, que além de possuir uma beleza extraordinária, foi palco para realização de um famoso documentário científico onde cientistas e mergulhadores retiraram fosseis submersos de vários animais extintos, dentre eles, espécies novas de Preguiças Gigantes.
Além do Poço Azul a cidade de Nova Redenção contempla várias outras cavernas com alto potencial paleontológico. E durante o Simpósio Brasileiro de Paleontologia dos Vertebrados que aconteceu em julho de 2018, na cidade de Teresina no Piauí, apresentamos para a comunidade científica o potencial paleontológico da Gruta da Lapinha que fica situada entre os municípios de Andaraí e Nova Redenção.
Esse trabalho apresentado no congresso é resultado da
parceria estabelecida entre a UNIVASF Campus de Senhor do Bonfim e os grupos de
espeleologia SEA e GAPPE.
Apresentação do trabalho da Gruta da Lapinha, durante o XI SBPV em Teresina.
Nova Redenção fica situada em terrenos com rochas carbonáticas da bacia Una-Utinga, essas rochas são propícias à formação de cavernas. A gruta da Lapinha é formada por rochas carbonáticas de calcário rico em magnésio, chamado de calcário dolomítico.
Mapas adaptados da carta geológica da CPRM. Nota-se pelos mapas que Nova Redenção situa-se em terrenos formados por rochas de uma antiga bacia sedimentar. São conhecidos Geologicamente como calcário do Grupo Una.
A topografia foi feita parcialmente e revelou até o momento
cerca de 600 metros de projeção horizontal e um desnível de 17 metros. Os fósseis
foram encontrados no trecho final da caverna nos salões que batizamos de Salão
Benevides e Salão da Mexerica. O Salão
Benevides é alcançado após descer uma fenda estreita com o desnível de – 6
metros. Esse é o salão onde encontramos a maior concentração de fósseis, e logo
em seguida ao Salão Benevides, depois de encarar um teto baixo na parte sudeste
da caverna, encontramos outro agrupamento de fosseis. Esse lugar ficou batizado
de Salão mexerica, depois que fizemos uma pausa pra comer tangerinas (também
chamadas mexericas) antes de encontramos os fósseis.
Mapa topográfico preliminar da Gruta da Lapinha.
A rocha calcária que forma a caverna foi originada em um antigo mar há mais de 700 milhões de anos atrás. Na imagem podemos ver marcas deixadas pelos primeiros seres vivos que habitavam esse mar primitivo, conhecidos como Estromatólitos.
Uma fenda de 6 metros de desnível separa o salão dos fósseis, da parte inicial da caverna.
Resgate de fósseis no Salão Mexerica. Detalhe das cascas da fruta que deu nome ao Salão.
Os fósseis foram resgatados e tombados na Universidade
Federal do Vale do São Francisco – Campus de Sr do Bonfim. Lá foram realizados os estudos que ajudaram a
identificar a que animais pertencem esses ossos. Os resultados mostram que os
ossos encontrados no Salão Benevides são principalmente de uma preguiça
terrícola extinta chamada de Valgipes bucklandi, de um cervídeo (Mazama gouazoubira) além de ossos do fêmur e tíbia de um Tigre –dente – de - sabre. Já os fósseis
encontrados no Salão Mexerica são de outra espécie de preguiça chamada de
Nothrotherium e também foi encontrado dentes de Anta cujo o nome científico é
Tapirus terrestris.
Fósseis "in locu" da preguiça gigante Valgipes bucklandi
Concentração de ossos da espécie Mazama gouazoubira que é conhecido popularmente como veado catingueiro.
Detalhes do dentário da espécie Mazama gouazoubira encontrado no Salão Benevides.
Podemos ver que alguns dos ossos passaram por um
interessante processo de cristalização, que pode ser estudado futuramente,
aumentando assim o nosso conhecimento sobre o processo de fossilização em
cavernas. Outro aspecto interessante é que os ossos estavam desarticulados e
muitas peças estavam fragmentadas e pode nos indicar que os animais não
morreram ali, e que sofreram algum tipo de transporte; Considerando também as
distâncias onde o material fóssil foi encontrado em relação às entradas
conhecidas hoje, é provável que esses fósseis foram depositados nos salões por uma
antiga entrada que encontra-se atualmente obstruída.
Detalhes de um fêmur de Preguiça gigante completamente mineralizado por calcita.
Outro fêmur de preguiça, mostrando que muitas peças encontram-se fragmentadas.
Entrada principal da Gruta da Lapinha em Julho de 2017.
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