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sábado, 1 de setembro de 2018

IV Encontro Nordestino de Espeleologia: Lições de Ituaçu em ano de Copa



Não era só um jogo da copa do mundo de futebol que estava rolando, o fato é que saímos de Petrolina com destino a Ituaçu no horário em que a seleção Brasileira de futebol entrava em campo contra a seleção da Sérvia no dia 27 de junho de 2018. Este fato nos leva a nossa primeira reflexão...



O atual desinteresse do brasileiro pela copa do mundo. Segundo as pesquisas publicadas no jornal Folha de São Paulo às vésperas do mundial de futebol, 54% dos torcedores em potencial da seleção afirmam não ter qualquer interesse pelo Mundial da Rússia. Alguns acham que o desinteresse é reflexo do 7x1 da última copa. Outros apontam o fato de que no futebol global as grandes equipes europeias são grandes conglomerados de jogadores que funcionam como seleções continentais, ao assistir um jogo da "Champions League" temos a oportunidade de ver todos os jogadores em alto nível. Vemos o melhor lateral do mundo passando a bola para o melhor atacante do mundo, já nas seleções nacionais que disputam a copa, o mesmo não acontece o que talvez gere alguma frustração.






Fazendo um paralelo com a espeleologia (que às vezes esquecemos que também é um esporte), cada ano parece menor o número de espeleólogos que encontramos nos eventos de espeleologia no Brasil. Percebemos isso, tanto em termos locais com nossos membros e expedições cada vez mais reduzidos aqui no sertão nordestino, quanto do ponto de vista nacional. A SBE lançou dados parciais sobre o censo espeleológico que está sendo realizado em 2018 e os números são tristes. Enquanto que a National Speleological Society (NSS) nos Estados Unidos contam 10 mil membros em 250 grupos, os dados preliminares do censo da SBE aponta que sequer temos 250 membros em menos de 20 grupos. Será que como espeleólogos sofremos da mesma frustração futebolística? Clubes de espeleo pequenos sendo carregados por um ou dois entusiastas. Seria a criação de superligas da espeleo uma saída? É algo pra se pensar com certa urgência antes que a espeleologia brasileira seja engolida pela chamada espeleologia profissional ligada a empresas e órgãos governamentais com objetivos e ideologias voltada para o licenciamento ambiental.






Outros paralelos ainda podem ser traçados entre a copa do mundo e o ENE de 2018. A cidade sede dos dois eventos guardam algumas semelhanças: Ambas as cidades são conhecida por suas baixas temperaturas e o alto consumo de álcool, porém enquanto que a terra de Yuri Gagarin se sobressai no campo da tecnologia e exploração espacial, a terra de Moraes Moreira tem a exploração do subterrâneo como seu destaque. Podemos ter um vislumbre da espeleologia em Ituaçu com o breve resumo de como foi o IV Encontro Nordestino de Espeleologia organizado pelo Grupo Arara de Espeleologia (GAE).





A cidade de Ituaçu em clima de copa, são joão e espeleo.



A abertura do Evento foi dentro de uma caverna, não uma caverna qualquer ,mas a suntuosa Gruta da Mangabeira onde presenciamos a faixa de boas vindas sendo lentamente desenrolada através de técnicas verticais e fomos brindados pela brilhante palestra do Professor Ricardo Fraga. Outro destaque daquela manhã de 28 de junho foi a emocionante homenagem in memoriam a Binael Soares Santos e Simpliciano Lima. Após um ciclo de palestras com algumas referencias da ciência espeleológica fechamos o primeiro dia com a divertida e encantadora travessia da gruta da mangabeira.

Abertura do IV ENE na gruta da Mangabeira.

Turismo na Gruta da Mangabeira pra fechar o primeiro dia do evento.



As cavernadas realizadas no segundo dia do evento foram o ponto alto do Encontro, tivemos a oportunidade de trocar experiências e aprender na prática com ícones da espeleologia nacional nas cavernas: Gruta do Parafuso, e Gruta do Pé do Morro. Infelizmente neste dia não foi possível visitar a Lapa do Bode, por conta de um imprevisto apícola. 



Entrada da Gruta do Pé do Morro- Ituaçu- BA.


Espeleotema que dá nome a Gruta do Parafuso- Ituaçu - BA.



Encerramos a nossa participação no ENE com a maravilhosa comemoração cultural da festa de São Marçal no dia 30/07. Assim como à seleção brasileira, nós também deixamos o evento antes da hora, e perdemos o último dia que culminou com uma expedição para a Lapa do Bode (dessa vez sem abelhas) e o encerramento do evento com o: “CAVERNA NO BUTECO” com a participação especial de Celso Ximenes, o organizador do primeiro ENE contando as histórias e causos dos encontros anteriores.






Lapa do Bode - Ituaçu-BA. Foto:Solon Almeida


Encontro de gerações no " Caverna no Buteco" Ramile Pinto, Ney Godim, Elvis Barbosa, Celso Ximenes, Solon Almeida e Mª Elina Bichuette.



Por fim uma última lição que tiramos da Copa e que podemos trazer para a espeleologia é a da Xenofobia. Os campeões do Mundo de Futebol de 2018 foram os que se despiram do preconceito e tiveram em seu elenco jogadores de outras etnias. Nenhum time da África foi muito longe na copa, já a França que foram campeões e tinham imigrantes em seu elenco chegaram onde chegaram devido ao investimento que fizeram no futebol dos imigrantes. Do ponto de vista espeleológico não é de hoje que discutimos entre nós como a espeleologia nordestina é vista com um certo preconceito pelos espeleólogos do sudeste, não é raro ouvir discursos separatistas e as palavras de Fred Lott (presidente da SBE) e Solon Almeida (Espeleonordeste) durante o evento foi no sentido contrário ao preconceito e reforçou a importância do investimento sobretudo na espeleologia praticada pelos grupos.


Turma do GAE presenteando Thiago (SEA) com o estiloso e cobiçado macacão da tropa de elite do GAE.



Não poderíamos escrever uma crônica sobre O IV ENE sem agradecer imensamente a todos os integrantes do GAE pela hospitalidade, pela amizade e por ter nos mostrado pra todos nós a receita de como fazer um evento espeleológico de sucesso. Um salve para o GAE e seu precioso “JABUTIÇÁ”. 


Jabutiçá o troféu do espeleoesportista do IV ENE.





Nós da SEA deixamos o IV ENE com a responsabilidade de junto com os mentores dos ENE anteriores organizar em 2020  o V ENE, na cidade de Petrolina – PE. 




Contagem regressiva para o primeiro encontro de espeleologia de Pernambuco.


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