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segunda-feira, 18 de maio de 2020

3 lições no Talhado do Lixão



O Talhado do Lixão ganha esse nome por está situado próximo de um depósito de lixo a céu aberto cerca de 30 km da sede de Campo Formoso-BA. Essa área que denominamos de Carste Tiquara, tem uma quantidade boa de afloramento com algumas cavernas conhecidas e atualmente está inserida em uma área visada para parque eólico. 


A chegada no lixão é sempre uma imagem devastadora, encontrar com famílias vivendo em barracos improvisados e disputando lixo com urubus é de uma tristeza sem tamanho. 

O encontro com a comunidade do lixão.


Poucos metros após o lixão, nos deparamos com o inconfundível afloramento com um enorme bloco calcário tombado.

A " Self" oficial da expedição com o afloramento ao fundo. Da esquerda pra direita: André Vieira Araújo; Dyego Magalhães, Jorgean Silva, Emerso "Aspira" Cajado e Thiago Mattos.


Apesar da pequena entrada, não tivemos dificuldade de acesso e sem demora começamos a topografar; A caverna é pequena e alterna desde o seu início, pequenos salões arrendondados fáceis de topografar com fendas altas e passagens estreitas que trazem um pouco mais de dificuldade.

Detalhe da entrada relativamente estreita

Os salões da caverna seguem esse aspecto com teto baixo e piso repleto de sedimento clástico. 

Próximo a entrada a caverna apresenta algumas fendas altas.

Tudo corria bem até que Thiago começou a tossir e espirrar ininterruptamente, ele avisou que estava com alergia ao sedimento que iria tomar um antialérgico e ficar próximo a entrada que tem menos sedimento e maior ventilação. A essa altura já estávamos quase finalizando a topografia, restava uma dessas pequenas passagens que normalmente não dão em nada.

Aqui aparece nossa primeira lição:  Nenhuma passagem pode ser subestimada!

Eu lembro que perguntei a Jorginho se prosseguia, ele se abaixou olhou a passagem e disse que achava que fechava. Eu respondi que não custava ir conferir, e para minha surpresa a passagem se abria em um pequeno salão. Apesar, da preguiça, falei que deveríamos terminar logo, para não precisar voltar outro dia por causa de um pequeno trecho. Enquanto rolava essa discussão Thiago ainda estava afastado se recuperando da alergia. 


E decidimos continuar a topografia sem Thiago, acreditamos que seria coisa rápida, pois, se continuasse a se repetir o padrão observado até então, seria um pequeno salão que encerraria em passagens entupida de sedimento. 

Um registro da passagem que quase subestimamos. 


A 2ª lição que aprendemos no Talhado do Lixão é: Em nenhuma hipótese se abandona um membro da equipe!

Acabou que esse novo trecho era completamente diferente do padrão observado até então na caverna, muito mais alto e longo e, portanto, mais fácil de topografar que ficamos empolgados topografando esse trecho promissor, e com isso esquecemos de Thiago. 

Felizmente, não aconteceu nada demais, na verdade Thiago pegou no sono, e depois que acordou ficou aguardando a gente no último ponto em que ele nos viu. Mas, ficamos muito reflexivo pensando em como fomos negligentes com a situação. E se o antialérgico não tivesse sido efetivo? Se Thiago começasse a ter uma crise ou choque anafilático? Estaria sozinho e não teria qualquer chance.  Foi uma preciosa lição que nunca vou deixar ocorrer outra vez.


Um registro de um crânio de porco do mato que encontramos logo após a passagem estreita.

Essa expedição ocorreu em janeiro de 2019, quase uma ano e meio depois da expedição e nunca fizemos os mapas digitais, e essa é a terceira lição: Não procrastinar a parte do tratamento dos dados.



Detalhe de um crânio de morcego em cima do croqui que até hoje espera para ser transformado em mapa. 

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