A Toca da Onça localizada no povoado de Caatinga do Moura, município de Jacobina, região norte da Bahia entrou para o mapa da ciência com as coletas e publicações realizadas pelo Professor Castor Cartelle no final da década de 70. Além de diversos espécimes da megafauna como: Preguiças e Tatus Gigantes, nesta caverna a essa mesma época foram coletados restos de dois esqueletos humanos. Estudos desse material humano demonstram traços africano-australomelanésios com datações de 9 mil anos que demonstra a importância dessa caverna para a interessante questão do povoamento das Américas. Apesar de tamanha relevância até 2018 a caverna ainda carecia de informações geoespeleológicas que dão subsídios para a melhor utilização e valorização desse patrimônio natural.
Vista área do afloramento da Toca das Onças. Uma árvore tombada cobre a dolina de formato circular que caracteriza a entrada da caverna.
Detalhe da entrada.
No trabalho que realizamos em 2018 e publicado na revista Scientia plena (Artigo Original) nós caracterizamos a Toca das Onças do ponto de vista geomorfológico, realizamos uma topografia e um mapa da caverna foi publicado pela primeira vez e ficou disponível para que outros pesquisadores de diversas áreas como arqueologia e paleontologia possam usufrui desse material para complementar seus trabalhos.
Aspectos da morfologia interna da caverna registrado sob a lente do Erickson Batista.
Já estávamos quase finalizando os trabalhos de topografia nessa expedição realizada no final de Janeiro de 2018 quando me deparei com um osso que se assemelhava a um osso humano, discutimos um pouco a respeito e decidimos fazer uma busca com maior atenção nesse pequeno trecho da caverna, não demorou e descobrimos diversos ossos relacionados, a dúvida se era ou não era de humanos permaneceu até que retirando um bloco e outro e limpando um pouco do sedimento revelou-se diante de nós uma mandíbula inequivocamente humana. Nossos corações dispararam e uma emoção tomou conta de todos os presentes, talvez estivéssemos diante de uma descoberta tão importante quanto foi a descoberta de Luzia (O fóssil humano mais antigo e que infelizmente foi queimado no incêndio que ocorreu no museu nacional do RJ).
Momento que encontramos a mandíbula humana durante os trabalhos espeleométricos de 2018.
O procedimento correto teria sido deixar cada vestígio desse em seu devido lugar e informar os pesquisadores da área de arqueologia sobre o ocorrido. No entanto, durante essa expedição participava um número muito grande de curiosos e ficamos receosos de deixar esse material para trás e que ele se perdesse antes da chegada dos pesquisadores, por essa razão após uma pequena discussão decidimos coletar e doar para a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) onde o material foi tombado e está sendo apropriadamente estudado.
Em 2021 fui convidado para participar de uma interessante investigação com um outro fóssil encontrado na Toca das Onças, tratava-se de algumas vertebras da preguiça gigante Eremotherium laurilardii, nestas vertebras o professor Fernando Barbosa identificou marcas relacionadas a um processo de cicatrização de uma ferida, o que nos fez sugerir que a preguiça caiu na caverna ainda viva, se machucou e ficou aprisionada na caverna até a sua morte algum tempo depois. Esse trabalho demonstrou pela primeira vez que a caverna funcionava como uma armadilha natural que os animais da megafauna caiam e não conseguiam sair, acumulando assim dezenas de esqueletos ao longo do tempo. Esse trabalho foi publicado na influente Scientifc reports que é uma publicação do grupo Nature uma das mais relevantes revista científica do mundo.
O título do trabalho publicado e fotos das vertebras encontradas na Toca das Onças.
Ilustração feita pela Paleoartista Júlia D' Oliveira representando a preguiça gigante tentando escapar sem sucesso da Toca das Onças durante a última era glacial.
Quais outros segredos ainda estão guardados na Toca das Onças à espera de novos olhares atentos?
Última expedição a Toca das Onças realizada em Outubro de 2021. Erickson, Juliano, André, Leo Bamberg, Eugênia (em pé) e Edemir (sentado).
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